A demissão do general Joaquim Silva e Luna e a indicação do economista Adriano Pires, sócio e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), como novo presidente da Petrobras foram bem recebidas pelo mercado, mas não chegaram a empolgar.
De acordo com analistas, a mudança sinaliza que o presidente Jair Bolsonaro (PL) deverá respeitar a política de paridade de preços internacionais (PPI) da estatal. Com isso, as ações da companhia subiram e ajudaram o Índice Bovespa a voltar a ficar acima de 120 mil pontos em um dia de ganhos modestos, em torno de 1%.
"Os sinais são de que não se altera a PPI. O mercado recebeu uma mudança sem necessariamente uma redefinição de estratégia da empresa", destacou o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani. Na avaliação dele, essa reação mostrou que os agentes financeiros consideram a Petrobras uma empresa com boas regras de governança e não alteram as suas políticas, apesar das declarações polêmicas de Bolsonaro, que já chegou a criticar a política de preços da Petrobras. "Obviamente, o nome de Adriano Pires ajuda e contribuiu para que não ocorresse grandes movimentos na Bolsa", acrescentou.
André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, avaliou a troca de comando da estatal como um "ato simbólico" do governo em pleno ano eleitoral, diante da disparada dos preços do petróleo e, consequentemente, dos combustíveis, um dos grandes vilões da inflação de dois dígitos desde o ano passado. "Qualquer iniciativa em reduzir o impacto aos consumidores de maneira mais generalizada teria que vir do Ministério da Economia na forma de subsídios, mas este não parece ser um plano desejado pelo ministro e pela equipe", afirmou. Para ele, Adriano Pires terá o enorme desafio de conter as pressões neste ano eleitoral. "Mas, ao que parece, ele vai jogar com o manual debaixo do braço e assim seguir com a estratégia da companhia", complementou.
Indicação
O nome de Adriano Pires para o comando da Petrobras foi sugerido a Bolsonaro pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Fontes do Ministério da Economia, que tem cadeiras no Conselho de Administração da estatal, reconhecem que o ministro Paulo Guedes não foi consultado para a indicação. Na Esplanada, comenta-se que Bento e Pires são muito amigos e, por conta disso, há dúvidas se ambos se sustentarão nos respectivos cargos se a insatisfação da população com a alta dos preços dos combustíveis persistir na campanha eleitoral, que está prestes a começar.
Pires é um grande defensor da PPI da estatal, assim como da privatização da companhia. Mas, ao contrário de Guedes, não é um crítico ferrenho da busca da criação de uma espécie de ferramenta para evitar altas bruscas nos preços dos combustíveis no mercado interno. Ele defende, por exemplo, que em vez de criar um imposto sobre a exportação do petróleo, o Tesouro Nacional subsidie os preços da gasolina, do diesel e do gás. Contudo, ele também costuma defender a discussão de uma proposta alternativa para estabilizar os preços em momentos de menor volatilidade no valor do petróleo.
A dúvida, no entanto, de acordo com especialistas, é se os preços dos combustíveis vão cair com a troca do comando da estatal sem mudanças na política da Petrobras. Pires também é bastante próximo ao presidente da Câmara, Arthur Lira. Ambos atuaram de forma alinhada durante a tramitação do projeto de privatização da Eletrobras. "Jabutis" inseridos durante a tramitação permitiram que a empresa banque projetos ligados ao setor de gás, medida que pode encarecer a conta de luz para os consumidores em vez de reduzir custo.
O líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), elogiou a indicação de Pires, ontem, em evento da Confederação Nacional da Indústria (CNI). "O presidente, ao dar a indicação do economista Adriano Pires, faz a indicação de um técnico respeitado por todas as correntes do país", disse.
Para o senador Jean Paul Prates (PT-RN), relator do projeto de lei que trata da criação da conta de estabilização de preços dos combustíveis, financiado com recursos da exportação do petróleo, o PL 1.472/2021, a recente demissão do presidente da Petrobras "é mais um capítulo na confusão de interesses na empresa que não solucionará as consequências ruins de sua atuação à sociedade".
"O problema não reside em quem dirige a Petrobras, mas na política de combustíveis, na qual o governo não quer mexer", comentou o parlamentar, em discurso no Plenário do Senado. Prates defendeu uma fusão da Petrobras com a Eletrobras. Segundo ele, não haverá futuro para a Petrobras se a estatal não se transformar em "uma grande empresa de energia e tecnologia".
Melhora na comunicação
Na avaliação de analistas do mercado, a troca de um general por um economista especializado na área de energia no comando da Petrobras deverá ajudar a melhorar a imagem da estatal com a população e com os parlamentares.
"Acredito que haverá melhora na comunicação da empresa, mas não acho que haverá grandes mudanças na gestão. Não dá tempo até o fim do governo", avaliou José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos. Para ele, o fato de o Ministério da Economia não ter participado da escolha do novo presidente da Petrobras não afeta o mercado. "Não faz muita diferença. O Adriano é confiável", garantiu.
O Conselho de Administração da Petrobras deverá aprovar o nome de Pires na assembleia geral ordinária (AGO), marcada para 13 de abril. O governo também indicou o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, para presidir o Conselho de Administração da estatal. Ele recusou o convite para presidir a petrolífera. Além de Landim e Pires, outro nome novo na listagem de oito conselheiros indicados pela União é o do engenheiro Eduardo Karrer, "executivo com 30 anos de experiência em diferentes conglomerados, incluindo entidades públicas e privadas", de acordo com o ofício do Ministério de Minas e Energia publicado pela estatal em sua página.
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