Conjuntura

Inflação aumenta a pressão sobre o BC; especialistas preveem aperto

IPCA-15 chega a 0,95% e comprova alta de preços disseminada. Especialistas preveem mais aperto monetário e Selic a 14%

Rosana Hessel
Fernanda Strickland
postado em 26/03/2022 06:00
 (crédito:  Marcello Casal Jr/ Agência Brasil )
(crédito: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil )

A alta de 0,95% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), registrada nos 30 dias encerrados na primeira metade de março, mostrou que as pressões inflacionárias estão mais fortes e disseminadas do que o previsto pelo mercado. Com isso, as apostas de um aperto monetário maior do Banco Central aumentam e as projeções de uma taxa básica de juros (Selic) mais elevada, acima de 13,50%, ganham força. Grandes bancos, como Credit Suisse, já passaram a projetar Selic de 14% no fim deste ano.

Antes, o banco suíço previa a taxa básica em 13,25% no fim do ano. A instituição revisou de 7% para 7,8% a previsão de alta do IPCA neste ano devido à surpresa do IPCA-15 — a prévia da inflação oficial. Além disso, manteve em um ponto percentual a previsão de alta da Selic em maio e passou de 0,50 ponto para 0,75 ponto a aposta de elevação da taxa básica em junho. Incluiu, ainda, mais uma alta em agosto, de 0,50 ponto.

Em relatório publicado, ontem, após a divulgação dos dados do IPCA-15, a instituição informou que, devido ao conflito Rússia-Ucrânia, previa apenas um repasse parcial dos preços internacionais dos combustíveis para os domésticos, "uma vez que o governo brasileiro, provavelmente, implementaria medidas para reduzir os preços dos combustíveis no mercado interno, o que agora parece menos provável". Para 2023, o Credit elevou de 4% para 4,3% a projeção do IPCA, "devido ao maior impacto inercial da inflação deste ano".

A alta do IPCA-15 de março foi a maior variação para o mês desde março de 2015, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A mediana das estimativas do mercado era de alta de 0,86%. No acumulado em 12 meses até março, o indicador avançou 10,79%, dado também acima da mediana das projeções dos agentes financeiros, de 10,67%.

dragao inflacao
dragao inflacao (foto: pacifico)

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa Selic de 10,75% para 11,75% ao ano, e sinalizou nova alta de um ponto percentual na próxima reunião, em maio, para 12,75%. Mas, agora, com o IPCA-15 acima das projeções e bastante disseminado, é provável que um aperto maior do que o sinalizado ocorra, de acordo com a Capital Economics.

"Enquanto o Banco Central deu sinais de que pode haver apenas mais um aumento de um ponto percentual na taxa de juros no atual ciclo (para 12,75%), suspeitamos que o próximo aumento da inflação a leve a um pouco mais de aperto", destacou William Jackson, economista-chefe para Mercados Emergentes da consultoria britânica, em relatório enviado aos clientes.

Ele esperava 10,5% de alta acumulada no IPCA-15 e elevou de 11,75% para 13,50% a aposta para a Selic no fim do ciclo de aperto monetário, diante da elevada disseminação na economia. O índice de difusão acelerou em relação a fevereiro e ficou em 75,5%.

As estimativas do mercado para o IPCA deste ano não param de subir há 10 semanas. Conforme dados do boletim Focus, do BC, a mediana das projeções do mercado para a inflação oficial está em 6,59%. Já as projeções para a Selic no fim do ano estão em 13%. Arnaldo Lima, diretor de Estratégias Públicas do Grupo Mongeral Aegon (MAG), prevê a taxa básica encerrando o ano em 13,25%, acima da mediana do mercado.

De acordo com dados do Itaú Unibanco, o IPCA de março deverá acelerar em relação à alta de 0,99% de fevereiro, passando para 1,31%. Para abril, o banco prevê avanço de 1,11% no indicador e, em maio, recuo de 0,26%. "Os próximos dois meses continuarão pressionados pelos reajustes recentes de gasolina, gás de botijão e diesel na refinaria pela Petrobras, considerando que o repasse tem sido mais alto e mais rápido para o consumidor. O pico da inflação deve ficar ligeiramente abaixo de 12% em abril. Esperamos alívio na leitura de maio, com mudança da bandeira de escassez hídrica para amarela", destacaram as economistas do Itaú Julia Passabom e Luciana Rabelo.

Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos, calcula um IPCA no fim do ano para algo em torno de 8%, "o que exigiria uma Selic também superior a 13,5%". Segundo ele, "com Selic até 13,5%, o IPCA superaria 7% em 2022", prevê o especialista. Pelos cálculos dele, há um teto para o IPCA de 7,32%, em 2022. "A Selic deveria atingir uma taxa superior à 13,75% para que a inflação não supere 7%", avalia.

Vilões

Conforme os dados do IBGE, houve variações positivas em todos os nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo órgão para o levantamento do IPCA-15. O principal destaque foi o de alimentos e bebidas, com variação de 1,95% e o maior impacto, de 0,40 ponto percentual. O dado ainda acelerou em relação à alta de 1,20% do mês anterior. Saúde e cuidados pessoais, cujos preços subiram 1,30%, após a queda de 0,02% observada em fevereiro.

No grupo de alimentos, a alta foi puxada pelos aumentos dos preços dos produtos consumidos em domicílio, de 2,51%, devido à influência de fatores climáticos como estiagem no Sul e chuvas no Sudeste. Com isso, segundo o IBGE, houve disparada dos alimentos in natura, principais vilões da inflação. Os preços da cenoura, por exemplo, dispararam 45,65% no mês. Também foram registradas altas expressivas nos preços do tomate (de 15,46%), da batata-inglesa (de 11,81%) e das frutas (de 6,34%).

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