Energia

BC estima custo energético como fator de preocupação sobre inflação

Banco Central elevou a inflação para 7,1’% deixando a janela aberta para novas projeções caso o cenário de pressão inflacionária permaneça. Projeções da autarquia para o ano foram divulgadas nesta quinta-feira (24/3), no Relatório Trimestral de Inflação

Michelle Portela
postado em 24/03/2022 14:32 / atualizado em 24/03/2022 14:34
 (crédito: Raphael Ribeiro/BCB)
(crédito: Raphael Ribeiro/BCB)

O Banco Central (BC) elevou a inflação para 7,1% deixando a janela aberta para novas previsões caso o cenário de pressão inflacionária permaneça. As projeções da autarquia para o ano foram divulgadas nesta quinta-feira (24/3), no Relatório Trimestral de Inflação. De acordo com o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, entre os principais fatores para possíveis novas altas estão o preço das commodities em dólar e os recursos energéticos.

“O Comitê de Política Monetária (Copom) avalia que o momento exige serenidade para avaliação da extensão e duração dos atuais choques. Caso esses se provem mais persistentes ou maiores que o antecipado, o Comitê estará pronto para ajustar o tamanho do ciclo de aperto monetário”, explicou Campos Neto.

Entre os fatores que influenciam a alta da inflação e estimulam as incertezas num cenário futuro estão a pressão sob a inflação do “custo” da guerra entre Rússia e Ucrânia, que completa um mês nesta quinta-feira, e a inércia do ano anterior, quando houve novos períodos de agravamento do ano anterior.

Nesse contexto, o Banco Central destacou o papel determinante da bandeira de energia elétrica como fator decisivo para a inflação nos próximos meses. “O ambiente se deteriorou substancialmente”, reconheceu o presidente da autoridade monetária.

“Em particular, o choque de oferta decorrente do conflito tem o potencial de exacerbar as pressões inflacionárias, que já vinham se acumulando tanto em economias emergentes quanto avançadas. A maioria das commodities teve avanços relevantes em seus preços, em particular as energéticas”, avalia Campos Neto, referindo-se aos acontecimentos que afetam ou afetaram os custos de produção das empresas e os preços que elas cobram.

Em 2021, de acordo com relatório apresentado hoje, a resposta do consumo das famílias, a variações no poder de compra geradas por movimentos nos preços de combustíveis, energia elétrica e alimentação no domicílio foram fatores que puxaram a inflação.

“Os efeitos dos choques de oferta sobre o consumo das famílias mostram-se rápidos, significativos e maiores para itens menos essenciais. A dissipação do choque de preços de energia elétrica de 2021 é um vetor positivo para o consumo em 2022. Por outro lado, o recente aumento substancial do preço de commodities em reais — especialmente petróleo e grãos — pode contribuir negativamente para o consumo ao longo do ano”, disse Fernanda Guardado, diretora de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos do BC.

Crise

Embutido nesses fatores de risco está a crise hídrica, uma vez que a tarifa de energia elétrica foi e deve permanecer importante para esse cálculo. Conforme declarou Campos Neto na última quarta-feira (23), a uma plateia de industriários, o pico da inflação está próximo. “Falando em inflação brasileira, vamos chegar no pico em abril e voltar a cair”, declarou, durante evento realizado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

O prazo dado pelo presidente da autarquia para o agravamento dos preços altos no Brasil coincide com o fim do período de cobrança da bandeira tarifária “escassez hídrica”, cobrada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O valor da taxa extra é de R$ 14,20 pelo consumo de 100 kWh, válido desde 1º de setembro de 2021 até 30 de abril de 2022. Antes dela, o valor cobrado era de R$ 9,492.

A cobrança extra ocorreria, portanto, de setembro de 2021 a abril de 2022, mas existem dúvidas sobre o impacto positivo do fim da medida. Segundo Renato Queiroz, pesquisador do Grupo de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e conselheiro do Instituto Ilumina, a retirada da bandeira de escassez hídrica não deve render tanto alívio ao bolso do consumidor.

“No ano que passou, houve uma seca maior. Aí, eles notaram que a bandeira vermelha — o último patamar — não ia ser suficiente. Criaram então uma bandeira de escassez, que encareceu a conta”, relembrou o especialista. “Já se sabia que as distribuidoras teriam mais deficit, tanto é que já há outros aumentos. Vamos deixar uma bandeira tarifária de escassez hídrica para ter um aumento maior”, comparou.

Atualmente, o governo justifica a taxa pela falta de água nos reservatórios. Na quarta-feira, o Subsistema Sudeste e Centro-Oeste operava em 62,39% da capacidade e o Subsistema Sul, com 36,43%.

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