Conjuntura

Renda do brasileiro caiu 9,7% em um ano

Pesquisa do IBGE indica a perda de rendimento do trabalhador na comparação entre 2022 e 2021. Desemprego chega ao menor nível desde 2016, com 12 milhões de desocupados. Informalidade emperra crescimento econômico

Michelle Portela
postado em 19/03/2022 06:00
 (crédito:  Marcello Casal Jr/ Agência Brasil)
(crédito: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil)

A renda média do trabalhador brasileiro ficou em R$ 2.489 no trimestre encerrado em janeiro de 2022, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A população desocupada está em 12 milhões de pessoas.

O valor apurado pela pesquisa nos meses de novembro, dezembro e janeiro de 2022 representa queda de 1,1% em relação ao trimestre encerrado em outubro, e de 9,7% frente ao trimestre finalizado em janeiro de 2021. Nenhuma categoria apresentou alta no rendimento durante a realização do levantamento.

Na indústria, houve queda de 4,1% na renda — ou menos R$ 102 no bolso do trabalhador —, mesmo com alta na ocupação de empregos com carteira. Também houve diminuição no setor de administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais: queda de 2,1%, ou menos R$ 76.

Pouco a comemorar
Pouco a comemorar (foto: Editoria de Arte do Correio)

A pesquisa também indica que a população desalentada, isto é, aqueles que desistiram de procurar emprego, ficou em 4,8 milhões de pessoas. É uma redução de 6,3% (menos 322 mil pessoas) em relação ao trimestre anterior e de 18,7% (menos 1,1 milhão de pessoas) na comparação anual.

A Pnad Contínua mostrou que a taxa de desocupação caiu para 11,2% no trimestre encerrado em janeiro, recuo de 0,9 ponto percentual na comparação com o trimestre anterior, encerrado em outubro. É a menor taxa para o período desde 2016, quando registrou 9,6%.

Em números, significa dizer que 12 milhões de pessoas continuam a procurar uma nova oportunidade de trabalho. Trata-se de uma redução de 6,6%, ou 858 mil pessoas a menos na fila dos desempregados na evolução dos trimestres terminados em outubro e janeiro, respectivamente.

No confronto com o mesmo período do ano anterior (novembro, dezembro e janeiro de 2021), a queda no percentual de desocupados é de 18,3%, o que representa 2,7 milhões de pessoas a menos em busca de trabalho.

Carteira assinada

O número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado (excluindo-se trabalhadores domésticos) ficou em 34,6 milhões de pessoas, 2% a mais (681 mil pessoas) que em outubro e 9,3% acima (2,9 milhões de pessoas) de janeiro de 2021.

No que diz respeito à informalidade, janeiro registrou 38,5 milhões de trabalhadores informais (40,4% da população ocupada), taxa menor que a do trimestre anterior (40,7%) e maior que a do mesmo período do ano passado (39,2%).

A coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy, explica que o setor de comércio influenciou positivamente o resultado. "A expansão do comércio indica a manutenção da tendência de crescimento dessa atividade, principalmente, a partir do 2º semestre de 2021. No trimestre atual, a população ocupada no comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (18,4 milhões de pessoas) já supera a registrada no período pré-pandemia (trimestre móvel de dez-jan-fev de 2020)", afirma.

O dado não surpreendeu os representantes do setor. "Dados de outras pesquisas já mostravam a recuperação econômica. O problema é que o rendimento médio real ainda está muito baixo e pressionado por conta de uma inflação elevada, o que implica em menor consumo das famílias, uma vez que a inflação está corroendo a renda do trabalhador", explica Guilherme Dietze, assessor econômico da Federação do Comércio de São Paulo (Fecomercio-SP).

Para Dietze, a informalidade é uma chaga crônica. "Informalidade não é um problema atual. A gente precisa reduzir esse patamar para abaixo de 10% para o país voltar a crescer. Mas temos fatores e condições desfavoráveis para uma situação mais confortável para investimento em emprego e renda. Por isso, com fatores externos como guerra e internos, como a inflação e baixa renda, a situação ainda inspira cuidados", comenta.

Recuperação

Rodolpho Tobler, economista e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV), entende que o país começou a dar sinais de recuperação econômica no segundo semestre do ano passado, como resultado da vacinação da população e flexibilização das regras sanitárias.

"A questão é que a recuperação do emprego não impulsionou a recuperação da renda. Atualmente, com um grande número de pessoas procurando emprego, é natural que no início da recuperação da crise ocorra a oferta de baixos salários", explica.

Com a inflação em alta e a guerra entre Rússia e Ucrânia, a situação das famílias pode ficar ainda mais precária. "Não temos perspectiva de que a inflação se reduza nos próximos meses. Com isso, a renda média do brasileiro deve continuar baixa, o que tende a ser um grande problema. As famílias, com certeza, estão com as rendas muito comprometidas", avalia Tobler.

Juliana Inhasz, professora e pesquisadora do Insper, aponta que o grande problema, a partir de agora, é a incerteza. "As relações de trabalho estão mais frágeis porque os empregadores não querem investir diante de um cenário de incertezas. Novos ciclos de covid, as eleições presidenciais e o perfil do governo pioram o cenário", diz.

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