MERCADOS

"Queda do preço do petróleo não é notícia boa", alerta Tony Volpon

Ex-diretor do Banco Central e estrategista da WHG, Tony Volpon, ressalta que queda do barril do petróleo para menos de US$ 100 é resultado do aumento dos temores de uma recessão global

Rosana Hessel
postado em 15/03/2022 23:18 / atualizado em 15/03/2022 23:26
 (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A.Press)
(crédito: Carlos Vieira/CB/D.A.Press)

Com a China retomando ao isolamento por conta de novo surto da covid-19 no país, o mercado voltou a ficar em estado de alerta. A expectativa de desaceleração da segunda maior economia do planeta, aliada aos temores de uma nova recessão global, fizeram o preço do barril do petróleo ficar abaixo de US$ 100 nesta terça-feira (15/3) nas bolsas dos Estados Unidos e da Europa. Mas a queda não é motivo de comemoração, alertam especialistas.

“O preço do petróleo caiu por uma razão preocupante, porque os mercados estão precificando um risco de recessão global. Isso não é uma notícia boa”, destacou ex-diretor do Banco Central, Tony Volpon, estrategista-chefe da Wealth High Governance (WHG). Ele lembrou que esse risco de recessão é ainda maior nos Estados Unidos, “que tem sido o motor de recuperação da economia mundial pós-covid”.  "E o Brasil começou a ir mal, com o dólar voltando a subir a Bolsa caindo", acrescentou.

Um dos principais motivos da queda do petróleo é a possível retração da demanda, diante da retomada do isolamento na China, com impacto na economia global. Nesse cenário, diminuem as pressões por novos reajustes dos combustíveis no Brasil pela Petrobras, uma vez que a defasagem do preço no mercado interno com o praticado no mercado internacional diminui. 

“A guerra na Ucrânia estava escondendo o avanço da variante ômicron no sudeste asiático e na China. O fato é que essa política de covid zero chinesa é excessiva e pode gerar novos choques de oferta. Sabemos o que vai acontecer. O número de casos vai aumentar, como já ocorreu na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil e, com várias cidades chinesas decretando lockdown e não deve ser apenas por uma semana. Isso afeta empresas locais e vai atrasar o fornecimento de muitos produtos, de matérias-primas e de peças novamente”, destacou Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

Fechamento dos mercados

O preço do barril do petróleo voltou a ficar abaixo de US$ 100, nas bolsas dos Estados Unidos e da Europa. O petróleo do tipo WTI, dos Estados Unidos, com entrega para abril, fechou o pregão cotado a US$ 96,44, com queda de 6,34% em relação à véspera. Já o barril do petróleo tipo Brent, negociado em Londres, recuou 6,5%, e fechou cotado a US$ 99,91.

Na semana passada, a cotação internacional disparou e chegou a ser negociado a US$ 139 o barril, maior patamar desde 2008, devido à escalada da guerra na Ucrânia. A perspectiva de aumento da produção e a perspectiva da retomada das conversas entre Rússia e Ucrânia ajudou a fazer o preço do petróleo recuar e as bolsas internacionais fecharem o dia no azul.

A Bolsa de Valores de São Paulo (B3), encerrou o pregão de hoje com queda de 1,60%, a 109.927 pontos. O dólar avançou 0,76% e encerrou o pregão cotado a R$ 5,159 para a venda. Na contramão, as bolsas internacionais registraram alta. Em Nova York, o Índice Dow Jones subiu 1,82% e, na Alemanha, o Dax saltou 2,21%.

Reunião do Copom

O recuo do petróleo pode ser um alívio para as reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que ocorre hoje e amanhã, mas não mudaram as apostas do mercado em relação à expectativa de alta da taxa básica da economia (Selic) atualmente em 10,75% ao ano. As perspectivas de inflação deste ano, por conta do reajuste de até 24,9% anunciado pela Petrobras, na última quinta-feira (10), dispararam nesta semana, passando de 5,65% para 6,45%, conforme a mediana do boletim Focus, do BC.

Volpon reforçou que essa virada no preço do petróleo não deve mudar o resultado esperado pelo mercado de alta de um ponto percentual na taxa Selic, nesta quarta-feira (16), para 11,75%. “O BC não deverá dar uma surpresa nessa decisão do Copom”, disse o ex-diretor da autoridade monetária. Pelas estimativas dele, em nível prospectivo, a taxa de juros real projetada para os próximos 12 meses é de 5% a 6%, e, portanto, o ciclo de aperto monetário está mais próximo do fim. As projeções da WHG indicam a taxa básica chegando a 12,75% ao ano, no fim do ciclo, mas podendo recuar para 12,25%, no fim deste ano.

Contudo, as previsões da gestora para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiros são mais pessimistas do que o mercado, pois estima quedas de 0,3%, neste ano, e de 0,5%, em 2023. Volpon contou que essas estimativas foram mantidas, apesar da elevação de 5,4% para 6,5%, na projeção do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano; e de 3,5% para 4,50%, a previsão do IPCA de 2023.

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