O bloqueio dos bancos russos do sistema global de pagamentos, o Siwft, vai ter efeitos negativos sobre o Brasil, que mais do que dobrou as importações da Rússia em 2021, totalizando US$ 5,7 bilhões, ante US$ 2,7 bilhões em 2020. Os dados são da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia.
Anunciada no último sábado, a retirada das instituições financeiras da Rússia do sistema faz parte do conjunto de sanções adotadas contra aquele país pela União Europeia, Estados Unidos e Canadá, por conta da invasão da Ucrânia.
Na prática, retirar os principais bancos russos do maior sistema de pagamentos do mundo impõe diversas barreiras ao pagamento e aos financiamentos de importação e exportação da Rússia, que saltou da 13ª para a 6ª posição do ranking de importações brasileiras em 2021.
"Todos os bancos brasileiros operam totalmente pelo Swift. Com a exclusão dos principais bancos da Rússia, teremos dificuldade de pagar importação de produtos russos, e de exportar para lá também. A ideia das sanções é exatamente essa, dificultar os negócios com a Rússia, e isso vai atingir todos os países que comercializem com eles, inclusive o Brasil", explicou Welber Barral, estrategista de comércio exterior do Banco Ourinvest e ex- secretário de Comércio Exterior.
Fertilizantes
Dados da balança comercial brasileira indicam que 62% das importações de produtos russos foram de adubos e fertilizantes químicos em 2021. A Rússia é o segundo maior produtor e exportador mundial de nitrogênio e o terceiro maior em fósforo e potássio, insumos básicos para a formulação de fertilizantes. O presidente Jair Bolsonaro (PL) justificou sua criticada viagem à Rússia, dias antes do inicio da invasão da Ucrânia, com a necessidade de garantir o fornecimento do produto ao Brasil.
Barral destacou o impacto que as sanções à Rússia vão ter no fornecimento de fertilizantes usados no Brasil: "O comércio do Brasil com a Rússia não é tão grande, representa 0,6% das exportações brasileiras. Mas tem uma importância muito grande em relação ao fornecimento de fertilizantes, que vêm não só da Rússia, mas também de outros países do Leste Europeu".
Em entrevista ao Correio, publicada na edição de ontem, o embaixador da Belarus, Sergey Lukashevic, informou que o país suspendeu as exportações de fertilizantes ao Brasil, por não ter como escoar o produto, devido ao fechamento da fronteira da Lituânia. Segundo o embaixador, o país fornece 20% dos fertilizantes usados na agricultura brasileira.
O economista da Universidade de Brasília José Luis Oreiro avaliou que a retirada dos bancos russos do Sistema Swift deve acelerar a inflação de produtos do agronegócio: "Se a Rússia ficar totalmente fora do sistema Swift, nós, por exemplo, não teremos como pagar as importações de fertilizantes. Com isso, podemos ter escassez desse produto no mercado e um aumento considerável dos preços dos fertilizantes. Isso vai acabar aumentando o custo de produção na agricultura brasileira. O preço da carne, do frango, do trigo, tudo vai subir, vamos ter uma aceleração na inflação dos alimentos", afirmou.
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, já manifestou preocupação com as consequências do conflito na Ucrânia. Mesmo assim, ela garantiu que o país tem alternativas para substituir o fornecimento de fertilizantes russos.
*Estagiário sob a supervisão
de Odail Figueiredo
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