O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará o Produto Interno Bruto (PIB) do ano de 2021 nesta sexta-feira (4/3), quando será a hora da verdade sobre quanto a economia brasileira conseguiu se recuperar do tombo de 3,9% (revisado) registrado em 2020 por conta da pandemia da covid-19.
A mediana das expectativas do mercado, coletadas pelo Banco Central no boletim Focus, é de um crescimento do volume de riquezas produzidas pelo país de 4,5%, abaixo da alta de 5,1% esperada pela equipe econômica. O ministro da Economia, Paulo Guedes, até chegou a admitir recentemente a possibilidade de o PIB ter ficado abaixo desse patamar, mas continua prevendo um crescimento neste ano que a maioria dos analistas não consegue ver. A estimativa da pasta para a alta do PIB em 2022 é de 2,1%, mas a mediana das projeções do mercado indica uma alta de apenas 0,3%, em linha com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Guedes sempre critica os pessimistas e repete o bordão de que "todos vão errar".
Especialistas, por sua vez, alertam que, mesmo se for confirmado crescimento de 5% em 2021, o PIB não terá voltado aos patamares anteriores à recessão de 2015 e 2016. Para piorar, observam que, neste ano e no próximo, as taxas serão medíocres, dado o elevado grau de incerteza em um ano eleitoral, além do fato de o presidente Jair Bolsonaro (PL) estar mais preocupado com a reeleição do que em colocar a economia nos trilhos.
As frustrações com as projeções da economia brasileira são constantes, em grande medida, após a disparada na taxa básica de juros (Selic), atualmente em 10,75% ao ano, devido à inflação de dois dígitos — dois freios para qualquer crescimento econômico. Com isso, a tendência é de menos emprego e renda para a população.
Vale lembrar que as últimas perspectivas no Focus indicam que o PIB deverá crescer 0,3% em 2002, em linha com o Fundo Monetário Internacional (FMI), mas abaixo dos 2,5% previstos no fim de 2020 e no início de 2021. Para o ano que vem, as estimativas são descendentes e estão com mediana de 1,5% — menos da metade da taxa de crescimento esperada pelo FMI para o PIB global, de 3,8%. Agora, devido à guerra no Leste Europeu, analistas não descartam uma nova recessão, pois o Brasil não passará incólume por essa nova turbulência global.
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Guerra e estagnação
De acordo com as projeções do economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, o PIB ficou estagnado no quarto trimestre de 2021 e encerrou o ano com alta de 4%. Para 2022, ele prevê nova estagnação. "Essa guerra pode trazer recessão", frisou. Para 2023, ele estima uma alta de 1,5%, mas adianta que o dado pode ser revisado para baixo. Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco Alfa, também não descarta recessão ainda neste ano por conta da guerra no Leste Europeu. Atualmente, ele está mais otimista do que a mediana do mercado — prevê alta de 0,5% no PIB deste ano —, mas não descarta o risco de uma taxa negativa.
"A guerra aumenta a chance, uma vez que o mundo deve crescer menos e isso vai puxar para baixo a nossa economia", afirmou Leal. "Boa parte do crescimento deste ano vai vir de fora e, por enquanto, não revisamos as nossas previsões, porque temos mais dúvidas do que certezas", completou.
A economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), contou que manteve em 0,6% a projeção de crescimento do PIB deste ano e um carregamento estatístico de 0,2% da alta de 4,6% esperada para o PIB de 2021. Ela reconheceu que a previsão de alta de 1,1% do PIB em 2023 estava "com riscos de baixa" antes da guerra da Ucrânia. "O impacto dessa guerra na atividade vai depender da duração do conflito e dos desdobramentos. Mas, na inflação, o efeito é imediato, pois também interrompe a queda da taxa de câmbio, que compensava parcialmente o choque inflacionário externo", disse.
Juros e eleições
Apesar de a mediana das previsões do mercado para o PIB deste ano ainda estar no campo positivo, as perspectivas para os juros estão em alta e acima de 12%. Com isso, o crescimento pode travar, não apenas neste ano mas também em 2023, dizem os especialistas. Instituições como Itaú Unibanco, Credit Suisse, Haitong, Banco Fator e Wealth High Governance (WHG) preveem PIB negativo neste ano, que tem eleições presidenciais no meio do caminho.
A WHG ainda estima queda de 0,3% no PIB do ano que vem, considerando a taxa básica de juros (Selic) em 12% neste ano. "Não estamos precificando reformas, nem eleições", disse o estrategista da WHG, Tony Volpon.
De acordo com José Francisco Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, a realidade está se impondo por conta das pressões inflacionárias inesperadas neste início de ano, confirmando as previsões do mercado de que o Banco Central não conseguirá cumprir a meta pelo segundo ano consecutivo. Ele ainda não incluiu os impactos da guerra no Leste Europeu na perspectiva de queda de 0,5% no PIB deste ano. "Há muita incerteza ainda", frisou.
Apesar de estar entre os mais otimistas, a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, prevê zero de crescimento do PIB neste ano e alta de 1,7% em 2023. Ela disse que o viés das projeções do ano que vem é de baixa, "mas ainda no campo positivo". "O nosso cenário tem queda de juros em 2023 mas, claro, tudo com a premissa de que quem assumir tenha uma condução mais responsável da política econômica", afirmou.
O dado do PIB de 2021 não deverá trazer muita novidade, mas confirmará o fato de que o Brasil cresce menos do que o mundo, na avaliação de Marcos Ross, economista-chefe do banco chinês Haitong no Brasil. "Esse esse crescimento de 4,5% ou de 4,6% já era esperado pelo mercado, e, se confirmado, não será impressionante, pois o Brasil está crescendo muito menos do que o mundo e vários países vizinhos, como Colômbia e Argentina", afirmou.
Ross destacou ainda que, apesar de os dados do final de 2021 terem vindo um pouco melhores do que o esperado, a atividade econômica no começo deste ano foi impactada pela variante ômicron (da covid-19)". Pelas estimativas de Ross, em 2023, o crescimento da economia brasileira continuará baixo, por conta do efeito estatístico que poderá ser maior se a Selic continuar subindo neste ano. "A probabilidade de uma contração em 2022 e um crescimento muito baixo em 2023 é bastante alta", acrescentou.
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