Os lançamentos e vendas de imóveis cresceram em 2021, mas entraram em trajetória de queda nos últimos meses do ano, de acordo com dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Segundo o presidente da entidade, José Carlos Martins, os custos de produção subiram muito, forçando as empresas a aumentar os preços. Com isso, os valores deixaram de caber no bolso de muitos compradores. "Há um ano e meio, já vínhamos alertando sobre o aumento absurdo no preço dos insumos. Hoje, nós deixamos de vender porque as pessoas não têm capacidade de comprar", afirmou Martins, em entrevista à imprensa.
O levantamento da CBIC apontou que, em 2021, os lançamentos avançaram 25,9% em relação a 2020, chegando a 265.678 unidades. No mesmo período, as vendas cresceram 12,8%, para 261.443 imóveis. Porém no quarto trimestre de 2021, houve uma deterioração de cenário: os lançamentos tiveram uma leve alta de 1,9% em relação ao mesmo intervalo de 2020, para 85.011 imóveis, mas as vendas encolheram 9,7%, somando 65.232 unidades. Desse modo, a oferta final — estoque de imóveis residenciais novos —cresceu 3,8% em 2021 ante 2020, para 232.566 unidades.
Segundo a pesquisa da CBIC, o preço médio dos imóveis residenciais subiu 10,38% em 2021, ficando abaixo da variação do Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), de 13,85%. Martins explicou que o mercado cresceu no acumulado de 2021 ajudado pelos juros baixos dos financiamentos imobiliários e porque ainda não havia tanta pressão de custos até o começo do ano passado.
O economista da Terra Investimentos Luís Gustavo Bettoni acrescentou que, além das condições financeiras mais favoráveis, as vendas cresceram em 2021 devido aumento da taxa de poupança. "Famílias que não tiveram a renda afetada pela pandemia passaram a poupar mais e a ver no mercado imobiliário uma opção de investimento", avaliou. "O juro básico em suas mínimas históricas teve dois efeitos: reduziu a atratividade de aplicações em renda fixa para investidores e barateou o crédito para imóveis", explicou.
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Preços
Essas condições, porém, já não eram as mesmas no fim do ano o que explica a queda nas vendas. A taxa básica de juro (Selic), que começou 2021 no patamar mais baixo da série histórica, em 2%, chegou a 9,25% em dezembro, e atualmente está em 10,75%, com tendência de alta. Além disso, a elevação dos preços dos imóveis afugentou o consumidor.
Para Bruno Sindona, CEO da incorporadora de empreendimentos populares Sindona, o cenário é delicado para as empresas, já que o aumento dos lançamentos cresceu duas vezes mais do que as aquisições, ou seja, as incorporadoras estão lançando mais do que o mercado está absorvendo. Para o consumidor, o preço está elevado. "Mas, no Brasil, comprar um imóvel é uma decisão que leva em conta diversos fatores, inclusive culturais. "É uma decisão que traz segurança para as famílias", avaliou.