O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que "o pico da inflação em 12 meses, no Brasil, deve acontecer entre abril e maio". A afirmação foi feita no evento "O comportamento monetário em 2022", promovido, em São Paulo, pela Esfera Brasil, uma organização empresarial voltada ao debate de temas econômicos e de interesse público.
Campos Neto reconheceu que a inflação está mais persistente do que as análises do BC previam, mas atribuiu o descompasso das projeções a fatos inesperados. "A gente tinha uma percepção de que veria o pico da inflação perto de dezembro e janeiro, (mas) a gente viu uma quebra de safra, o que não é pouco relevante. A gente estava vendo o petróleo indo para US$ 60, ele voltou, indo para acima de US$ 90", justificou.
Segundo ele, esses eventos geraram uma quebra de percepção em relação a quando ocorreria o pico inflacionário. "A gente imagina, hoje, que será alguma coisa entre abril e maio, depois vai ter uma queda da inflação um pouco mais rápida" disse.
Em declarações ao longo dos últimos meses, o presidente do BC vinha alterando essas previsões. Ele chegou a prever o topo da inflação para setembro do ano passado, depois passou a afirmar que o pico seria atingido no início deste ano.
Campos Neto ressaltou ainda que a autoridade monetária usará todas as ferramentas de que dispõe para trazer a inflação para a meta. Ele afirmou que o Brasil "saiu na frente" e está mais acelerado no ciclo de aperto monetário, na comparação com outros países.
Na última reunião, na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC elevou a taxa básica de juros (Selic) de 9,25% para 10,75% ao ano, o maior patamar desde maio de 2017. Foi o oitavo aumento consecutivo na Selic e, segundo analistas, a taxa pode chegar a 12% no fim do ciclo de alta.
Após a decisão, o BC passou a dizer que o horizonte relevante da política monetária agora tem foco em 2023 e, em menor grau, em 2022. As projeções para a inflação deste ano estão acima do teto da meta, de 5%. Para 2023, o limite estabelecido é de 4,75%.
Segundo o presidente, o trabalho feito pelo BC já se reflete nas expectativas do mercado, que tem mostrado desaceleração nas taxa de juros de curto e médio prazos. No entanto, as incertezas sobre o equilíbrio das contas públicas a longo prazo não tem permitido que o mesmo ocorra com as chamadas taxas de juros longas. "Incertezas fiscais impactam a parte longa da curva", disse.
Roberto Campos Neto fez, ainda, menção ao alerta que o órgão fez na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) de fevereiro a medidas como a PEC dos combustíveis, discutida entre governo e Congresso. "Deixamos claro que medidas sobre preços de curto prazo não têm efeito estrutural sobre a inflação", disse.
Endividamento
Ele também afirmou que o mercado de crédito continua saudável, embora em desaceleração. Ele reconheceu que o endividamento das famílias piorou. "Mas não é algo que chama muita atenção ainda. O BC tem preocupação com isso. Tem projetos para os superendividados. E também há preocupação com os negativados, que estão fora do mundo financeiro. Há uma série de medidas para quem está mais comprometido na cadeia de crédito", disse ele. (Com Agência Estado)