Responsável pela maior parte da formação do Produto Interno Bruto (PIB), o setor de serviços cresceu 10,9% em 2021, após ter recuado 7,8% em 2020. Essa foi a maior taxa anual desde o início da atual série histórica, em 2012, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com o resultado do ano passado, o setor voltou a ficar acima do nível em que se encontrava no período pré-pandemia, ou 6,6% acima do registrado em fevereiro de 2020.
Especialistas acreditam que ainda pode haver melhora em 2022, o que depende fundamentalmente de maior controle da pandemia de covid-19. Em dezembro, o setor cresceu 1,4% em comparação a novembro, no segundo mês seguido de alta. Boa parte do desempenho expressivo do ano passado é resultado da base fraca de comparação de 2020, quando a pandemia atingiu em cheio o setor.
"Nos primeiros meses de 2020, com a eclosão da pandemia, o setor de serviços foi duramente afetado pela necessidade de isolamento social e de fechamento dos estabelecimentos que prestavam serviços de caráter presencial", explicou o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo. "Por outro lado, a pandemia trouxe oportunidades de negócios para serviços voltados às empresas, como os de tecnologia da informação, transporte de cargas, armazenagem, logística de transporte e serviços financeiros auxiliares, que tiveram ganhos mais expressivos e compensaram as perdas dos serviços de caráter presencial", contextualizou.
Lobo destacou que houve alta em todas as atividades no ano passado. "É a segunda vez na série que todas as atividades crescem simultaneamente. Dos 10 anos da série, o setor fechou positivo em cinco, e, nestes, apenas em 2012 e 2021 houve crescimento em todas as atividades."
O setor, entretanto, ainda apresenta uma situação heterogênea. Os serviços prestados às famílias, por exemplo, apesar de terem crescido 18,2% no ano passado, ainda não recuperaram o nível pré-pandemia.
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Cautela
Segundo o economista e professor do Ibmec William Baghdassarian, embora seja uma boa notícia, porque mostra uma recuperação da economia, a expansão do setor no ano passado deve ser vista de forma prudente. "Esse crescimento deve ser contextualizado dentro desse ambiente de covid", afirmou. "O que aconteceu em 2021 foi, simplesmente, a recuperação de algo que tinha parado em 2020. A gente, provavelmente, deve ter avançado um pouquinho com relação a 2019, mas é como se fosse um V: tinha 2019, caiu em 2020, voltou em 2021", disse.
De acordo com Baghdassarian, o setor, provavelmente, deve crescer em 2022, ressaltando que a variante ômicron voltou a reduzir um pouco a atividade. "Isso deve ter um efeito na economia como um todo", disse. Vale lembrar que a mediana das previsões do mercado para o crescimento do PIB, neste ano, é de 0,3%.
Para o conselheiro do Conselho Regional da Economia do Distrito Federal (Corecon-DF) César Bergo, o crescimento dos serviços em 2021 surpreendeu, em especial "naqueles ramos não muito tradicionais ligados a comunicação, transporte, logística, que cresceram bem acima da média".
Bergo avalia que, a partir do segundo trimestre de 2022, setores que foram muito afetados pela pandemia vão mostrar melhora significativa. "Isso deve ocorrer à medida que haja um controle da doença — o que não está acontecendo neste momento, por isso, o primeiro trimestre vai ser ainda difícil", observou. O avanço deve ocorrer, sobretudo, em atividades ligadas ao turismo, lazer e serviços à família — como academias de ginástica e escolas — e contribuir para uma "recuperação acima do que estava se esperando para este ano".