Os dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), de 2021, indicam que no Brasil há cerca de 116,8 milhões de pessoas, ou seja, 55,2% da população, passando por situação de insegurança alimentar — que é quando há uma indisponibilidade ao acesso de alimentos ou quando as pessoas finalizam o dia sem realizar as principais refeições. Uma parcela desse contingente, o equivalente a 12%, são de moradores do campo. Entre eles, a fome para os agricultores familiares, é um problema que atinge 14,3% da categoria, sendo que 65,2% apresenta algum nível de insegurança alimentar.
Enquanto isso, o Brasil tem o título de importante produtor de alimentos e capacidade para prover a demanda do mercado interno, mas os próprios produtores não são abastecidos em sua própria alimentação. Esse será um dos temas discutido no evento Correio Talks — Sistemas Alimentares e Desenvolvimento Sustentável, na quarta-feira, às 15h30, e poderá ser acompanhado pelas redes sociais do Correio Braziliense.
O estudo produzido pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) mostrou que a lógica agrícola praticada, hoje, faz com que "o papel do modelo hegemônico de sistemas alimentares na produção de alimentos de baixa qualidade, no agravamento das desigualdades sociais e na depredação ambiental (é) incentivada, por meio das políticas públicas, é hegemonicamente orientada para a produção de commodities".
É possível pensar em uma forma mais sustentável de produção de alimentos, mas, para isso, a agricultura familiar deve ser vista como uma parceria. "Tem uma série de formas de produção que podem ser menos impactantes. Mais de 70% dos alimentos que chegam à mesa vêm da produção familiar, mas o que o governo passa pra essa agricultura é muito pouco. A gente sabe que consegue fazer a produção de outra forma, com mais diversidade, mais recursos. Mas para reverter isso é preciso fazer o oposto, investir em uma produção mais sustentável", disse Potira Preiss, pesquisadora no Grupo de Estudos em Agricultura, Alimentação e Desenvolvimento.
Um dos convidados do painel, o deputado federal Rodrigo Agostinho (PSB-SP), ex-coordenador da frente parlamentar ambientalista no Congresso, explica que o modelo agrícola de produção de contêineres faz mais sentido para os outros países do que para o Brasil. Para ele, para resolver o desequilíbrio em relação à agricultura familiar o governo deveria se voltar em tornar mais sólidas as políticas públicas com foco no pequeno produtor.
"Na agricultura convencional, o governo oferece crédito barato, subsídios para sementes, para produtos veterinários, para compra de ração, para compra de adubos químicos, de agrotóxico. A política pública para a agricultura familiar deve ser baseada em subsidiar os insumos necessários para produção e criar mecanismos para que seja escoada", avalia.