O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, decide, nesta quarta-feira, a nova taxa básica da economia (Selic), atualmente em 9,25% ao ano. O consenso do mercado para o resultado do segundo dia de reunião do colegiado é de uma alta de 1,50 ponto percentual, para 10,75% — o maior patamar desde maio de 2017. O nível elevado dos juros tem gerado apreensão do setor produtivo.
A mediana das projeções para a Selic, que vem sofrendo sucessivas altas desde março de 2021, para o fim do ano está em 11,75%, o que deverá confirmar uma desaceleração na economia. Algumas estimativas do mercado já indicam a Selic acima de 12%, devido ao fato de projeções para a inflação, que já estão acima do teto da meta de 5%, continuarem sendo revisadas para cima diante da piora do cenário externo com a crise entre Rússia e Ucrânia pressionando os preços do petróleo. Nesse patamar, o país poderá voltar a ter os juros reais (acima da inflação) mais altos do mundo, alertam especialistas.
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Consequências
No início da noite de ontem, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), divulgou nota pedindo para o Copom parar de aumentar os juros básicos. "Já estamos sofrendo, hoje, as consequências da elevação da Selic em 2021. Por isso, a indústria têxtil e de confecção e a Abit entendem ter chegado a hora de interromper esse ciclo", ressalta o presidente da entidade, Fernando Pimentel. Ele alerta que o mercado de consumo voltou a piorar, "devido às restrições impostas pela variante ômicron".
E as projeções não param de piorar, na contramão do discurso otimista do ministro da Economia, Paulo Guedes. Ontem, foi a vez do Bradesco reduzir as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) e elevar as de inflação e da Selic. O banco reduziu de 0,8% para 0,5% a estimativa de crescimento do país neste ano — acima da mediana do mercado, de 0,3%, mas bem abaixo da previsão do Ministério da Economia, de 2,1%. Além disso, elevou a previsão para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 4,9% para 5,4%, e para a taxa Selic em dezembro, de 10,25% para 11,75%.
Analistas reconhecem que, no fim do ano, o juro real poderá ficar entre 6% e 7%, o que será uma trava para a economia crescer, porque o custo para o crédito e para os investimentos que ajudariam a aquecer o PIB ficarão proibitivos. André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, por exemplo, estima juro real de 6,52% no fim do ano, considerando Selic de 11,75% e IPCA em 5,23%. "Os juros reais brasileiros devem ser os maiores do mundo ao final de 2022", afirmou Perfeito. Em um ranking elaborado por ele, Rússia e México, em segundo e terceiro lugar, teriam juro real bem menor do que o brasileiro, de 3,3% e de 2,81%, respectivamente