O presidente Jair Bolsonaro (PL) não tem mais a confiança irrestrita do mercado financeiro. Analistas e estrategistas de instituições bancárias e de investimentos avaliam que a reeleição de Bolsonaro (PL) poderá ser ruim para a economia, devido às tensões políticas e às aventuras populistas do mandatário. E, como a terceira via não emplaca, uma vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no pleito de outubro não será ruim, segundo eles, principalmente se vingar a anunciada chapa com o ex-tucano Geraldo Alckmin.
Do ponto de vista dos operadores financeiros, o ex-governador de São Paulo seria a garantia de um governo mais responsável do ponto de vista fiscal. "O mercado está vendo que o processo de transição de poder está mais tranquilo, e até o presidente do Banco Central (Roberto Campos Neto) tem falado isso. O mercado acha que um eventual governo Lula, em 2023, poderá ser melhor do que o de Bolsonaro", afirmou a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria. Ela citou entrevista recente de Campos Neto na qual ele reconheceu que o mercado diminuiu a rejeição a Lula. "O mercado passou a ser menos receoso da passagem de um governo para outro", afirmou o chefe da autoridade monetária em entrevista à GloboNews.
No entender de Alessandra Ribeiro, os operadores estão incorporando as apostas de um governo Lula parecido com o do primeiro mandato. "O fluxo de entrada de capital estrangeiro também está refletindo esse cenário porque, no exterior, a imagem de Bolsonaro é de pária internacional", lembrou.
Contudo, ela alertou que tudo ainda depende da confirmação das chapas em abril, assim como os nomes da equipe econômica do petista. "Os nomes são importantes. O mercado não quer os antigos integrantes das equipes econômicas dos governos do PT, muito menos, os que estavam no primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff", disse.
A aversão do mercado a Bolsonaro cresceu desde a aprovação da PEC dos Precatórios, que flexibilizou a regra do teto de gastos públicos. Agora, a preocupação é com a PEC dos Combustíveis que vinha sendo defendida por Bolsonaro. Na avaliação dos analistas, a medida pode sepultar de vez qualquer compromisso de responsabilidade fiscal do atual governo.
Em artigo recente denominado "Terraplanismo Econômico", Daniel Leichsenring, economista-chefe do Fundo Verde, da gestora Verde Asset Management, classificou a PEC dos Combustíveis como um "desvario completo" e comparou os governos Bolsonaro e Dilma como "gêmeos separados pelo nascimento" na gestão fiscal. A Verde é comandada por Luis Stuhlberger, um eleitor de Bolsonaro arrependido publicamente.
O fluxo de capital estrangeiro vem crescendo neste início de ano à procura de ativos brasileiros baratos em dólar na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) e com a perspectiva de que a taxa básica de juros (Selic), atualmente em 10,75%, continuará subindo e ficará acima de 12%. No acumulado deste ano até quarta-feira, a entrada de investidores não residentes na B3 somou R$ 49,2 bilhões.
"Dinheiro não aceita desaforo. Com 12% de juros não dá para apostar contra o real. Uma vez que se aposta no real, os outros ativos, que estavam descontados, vêm junto. Acho que o juro explica a melhora do apetite a ativos de risco no Brasil", afirmou um economista de uma grande instituição financeira. Alessandra Ribeiro ressaltou que o fluxo de capital estrangeiro não alcança apenas o Brasil. "Os juros são um elemento importante, mas está havendo, também, uma recomposição dos portfólios dos grandes gestores. Eles estão alocando uma parte dos recursos nos mercados emergentes, buscando ativos da economia real", explicou.
Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos, por sua vez, vê com reticência a vantagem de Lula nas pesquisas sobre Bolsonaro. Ele aposta em chances de uma terceira via decolar, principalmente com os recursos da União Brasil, resultado da aliança de PSL e DEM. "É preciso ver os candidatos nas ruas e como a população vai se comportar. Tanto Bolsonaro quanto Lula possuem rejeição elevada", alertou.
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