Diante de um cenário econômico fragilizado, com altas taxas de desemprego, inflação nas alturas, aumento da pobreza e da fome no Brasil, a condução da política econômica está no centro das atenções dos eleitores na hora de escolher um candidato para votar em 2022. Pesquisas apontam que o principal problema do país indicado pelos cidadãos está na economia. Portanto, o tema deve dar o tom das eleições deste ano. Para especialistas, inflação, desemprego e crescimento da renda do brasileiro devem ser os temas dominantes dos debates.
Diferente da última eleição, em 2018, na qual demandas como combate à corrupção, segurança pública e busca pela "nova política" nortearam o cenário, este ano o principal foco dos eleitores será a economia. "O que as pesquisas que lidam com as aflições dos brasileiros vêm mostrando é que a pobreza e o emprego se tornaram as principais preocupações, e isso vai guiar a escolha do eleitor", constatou o professor de economia da Universidade Federal do ABC (UFABC) Fábio Terra.
O economista e professor dos MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Mauro Rochlin concorda e acredita que, em 2022, o impacto da situação econômica sobre a intenção de voto se dará principalmente por conta do momento vivido pelos brasileiros. "Ano passado, o PIB desabou, o mercado de trabalho derreteu, a taxa de desemprego subiu mais de 15% e, como se isso não bastasse, a gente está tendo esse ano uma inflação que ultrapassa os 10%. Então, acredito que esse quadro dramático é o motivo pelo qual a economia ganha destaque no momento das eleições", explicou Rochlin.
Terra concorda e pontua que a pandemia da covid-19 contribuiu para a formação de um cenário dramático no âmbito econômico. Contudo, ele indica que algumas questões, como a falta de emprego, já estão latentes no país há algum tempo. "Enquanto a questão da fome volta a ser uma preocupação, o desemprego é algo que já vem há algum tempo e que a pandemia agonizou. Já estava ruim e, com a pandemia, piorou, e isso entrará fortemente no radar do eleitor", ponderou o professor de economia.
Destaques
Além da questão do desemprego, o economista Rochlin acredita que a inflação também será foco de atenção dos eleitores que acompanharão de perto os debates entre os candidatos. "Mesmo que a população em geral seja leiga em economia, ela sente no bolso a alta de preços. O bolso é o órgão mais sensível do ser humano. Então, mesmo que o eleitor não saiba exatamente qual é a taxa de inflação medida pelo IPCA, ele sente no bolso o que está acontecendo em termos de preço", avalia.
Fábio Terra indica que para observar os temas econômicos que vão ter referência nos debates eleitorais é preciso olhar para os três atores envolvidos nesta equação: os eleitores, o mercado financeiro e os candidatos. "Os eleitores estarão basicamente pedindo ajuda para um próximo presidente para escapar da pobreza. Logo, pedirão emprego que traz renda, que traz segurança contra a pobreza e a fome. O mercado estará fazendo as demandas que sempre faz, como consolidação fiscal e reformas. E os candidatos, nesse meio termo, tentando costurar um agrado ao mercado e um agrado a quem vota. Então, a pauta da próxima eleição se dá nessa triangulação", analisa.
Mudança de cenário
No entanto, o discurso que cada candidato adotará pode mudar até lá, já que o cenário econômico dos meses antecedentes ao pleito vão influenciar bastante na postura adotada pelos presidenciáveis. O cientista político e vice-presidente da Arko Advice, empresa de análise política com sede em Brasília, Cristiano Noronha, indica que os eleitores costumam se apegar a como a economia está no momento próximo das eleições para definir o voto.
"Por isso, o governo atual aposta em ações para 2022, como privatizações e concessões, e acredita que a economia pode responder positivamente para que, eventualmente, o presidente Jair Bolsonaro tenha uma recuperação da popularidade", pontuou. O economista Rochlin acredita que os níveis de inflação nos meses de campanha eleitoral também serão fundamentais para determinar as intenções de voto.
"Não adianta dizer que hoje a inflação está em 10%, que a população está revoltada e, por isso, Bolsonaro não conseguiria se reeleger. Acho que é um pouco cedo para dizer isso. A gente precisa olhar o cenário da véspera da campanha da eleição", alegou. Ele explica que, se a inflação estiver controlada em agosto e setembro, isso ajudará o discurso do governo. Mas se isso não acontecer, o que se fortalece é o discurso da oposição.
Rochlin aponta que a perspectiva é de queda da inflação até o período da votação. Segundo ele, três fatores explicam essa estimativa. O primeiro deles é a estabilidade no preço dos commodities, como petróleo, minério de ferro, milho e trigo. O segundo ponto é a estabilidade do dólar.
"Por mais que a gente saiba que o dólar está caro, é o mesmo valor que estava um ano atrás. Então, o preço do produto importado não deve aumentar, deve ficar com preço estável", observou. "O último fator que podemos citar é a alta da taxa de juros. A taxa Selic foi muito aumentada e essa taxa de juros mais alta inibe o consumo", completou.
Velho modelo
Ainda que a atenção dos eleitores tenha se voltado para a economia, os especialistas destacam que, historicamente, o tema é um fator preponderante para a definição do pleito. "Podemos citar como exemplos o sucesso do Plano Real, que projetou Fernando Henrique Cardoso para a presidência em 1994; o bem-sucedido primeiro governo do ex-presidente Lula, com a melhoria da condição econômica de grande parte da população, que foi responsável por sua reeleição em 2006", elucidou o doutor em Ciência Política e professor do Ibmec Brasília Ricardo Caichiolo.
Cristiano Noronha concorda com o colega e lembra que Fernando Henrique Cardoso também foi reeleito por conta da questão econômica. "Em 1998, FHC também acabou sendo reeleito por essa questão econômica. Naquele ano, os eleitores viam o ex-presidente como a pessoa capaz para enfrentar toda aquela questão de forte turbulência na economia internacional, já que ele demonstrou uma grande capacidade no enfrentamento da inflação em 1994", relembrou.
Para tentar se reeleger com base na pauta econômica, Caichiolo acredita que Bolsonaro irá explorar a implementação do novo Auxilio Brasil.
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