A primeira de três paralisações de servidores públicos, marcada para acontecer hoje, será um teste para avaliar a força do funcionalismo no embate com o governo por recomposição salarial. Liderado por representantes da elite do funcionalismo, o movimento cobra aumento de até 28,15% nos contracheques e ganhou força após o presidente Jair Bolsonaro prometer verba apenas para corrigir os vencimentos de policiais.
De acordo com estimativa do Ministério da Economia, cada 1% de reajuste salarial implica aumento de R$ 3 bilhões nas despesas. Assim, caso a reivindicação seja atendida, o custo para os cofres públicos seria de R$ 84,45 bilhões por ano. O Orçamento de 2022 prevê apenas R$ 1,7 bilhão para reajustes salariais — exatamente o dos policiais, base política de apoio do presidente.
Os atos de hoje foram inicialmente convocados pelo Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), que reúne grupos de auditores fiscais da Receita, servidores do Banco Central, diplomatas e outros. Na última sexta-feira, a mobilização recebeu o reforço do Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe), que representa leque mais amplo de carreiras, inclusive aquelas com menores salários, e promete participar do ato.
Saiba Mais
Atos
As manifestações estão marcadas para começar às 10h desta terça-feira na frente do Banco Central e continuar às 14h no Ministério da Economia. O Fonacate espera participação de, ao menos, 29 categorias, segundo levantamento atualizado na noite de ontem.
Os fóruns e associações que organizam o ato representam 1,2 milhão de servidores em todo o país. A expectativa, segundo líderes sindicais, é de que a mobilização seja a maior desde 2015. O presidente do Fonacate, Rudinei Marques, explicou que considera esse momento decisivo para o início da luta do funcionalismo por aumento de salários. "A mobilização começa agora, mas só se encerra com a recomposição salarial", afirmou.
Greve geral
Segundo Marques, o principal objetivo dos atos de hoje é abrir um canal de discussão com o governo. "Depois, a mobilização prossegue para que nós tenhamos uma primeira proposta de recomposição. Se isso não ocorrer até a primeira semana de fevereiro, vamos avaliar a possibilidade de uma greve geral do serviço público", afirmou.
O cientista político Nauê Bernardo destacou que a unidade da categoria, que será colocada à prova hoje, é parte integrante da busca por recomposição salarial. "Isso pode ser o início de uma mobilização para exigir melhorias a um eventual novo governo", disse. Bernardo observa que a greve é ruim para o governo federal. "Ela força uma tomada de decisão e gera uma crise a partir de uma medida que visava beneficiar a base do governo. Atrai a contrariedade da opinião pública em um momento já tenso e impacta a prestação de serviços aos cidadãos", avaliou.
"Vamos ter um momento artístico para abrir a mobilização", ironizou o presidente do Fonacate. "Estamos levando bonecos com a caricatura do ministro da Economia, Paulo Guedes, em alusão aos milhões de dólares que ele tem em paraísos fiscais." Segundo Rudinei Marques, o movimento tem adesão expressiva de carreiras dos poderes Judiciário, Legislativo e Executivo.
"Estarão conosco os analistas de comércio exterior; servidores do Itamaraty; especialistas em políticas públicas e gestão governamental; auditores fiscais e agropecuários; auditores e técnicos da Controladoria-Geral da União (CGU) e do Tesouro Nacional; oficiais da inteligência; servidores das agências reguladoras; funcionários do Banco Central; servidores da Comissão de Valores Mobiliário (CVM); peritos federais agrários; e servidores da Superintendência de Seguros Privados (Susep)", listou Marques.
Dentro do movimento, há percepções diferentes sobe o movimento. Dirigentes da Condsef disseram que pretendem entregar, no Ministério da Economia, uma reivindicação de reajuste emergencial de 19,99% — o que corresponde à inflação dos três anos de governo Bolsonaro. Caso a reivindicação não seja aceita, a ideia é deflagrar greve a partir de 14 de fevereiro — com o restante do funcionalismo público, que planeja cruzar os braços de forma generalizada.
Diálogo
O secretário-geral da Condsef, Sérgio Ronaldo da Silva, ponderou que a intenção da entidade é esgotar todas as tentativas de diálogo antes de partir para uma greve. "Queremos dialogar antes de ir para o conflito. Até agora, o governo não sinalizou pelo diálogo. Nós temos um prazo que vai até 3 de abril, e acreditamos que, até lá, temos como instituir um consenso. Caso não tenha retorno, vamos nos reunir no dia 27 e depois declarar greve a partir de 14 de fevereiro", disse.
"Estamos construin
do as etapas até para não ter ilegalidade. A Justiça pede isso. A gente só pode deflagrar uma greve quando o diálogo for esgotado. Esperamos que o governo tenha disposição para nos ouvir. Foi isso que construímos na sexta-feira. Esse dia 18 vai ser um dia nacional de luta e esperamos construir uma plataforma de diálogo", reiterou Silva.