DÓLAR

Dólar sobe 0,48% e fecha a R$ 5,69 com risco fiscal e expectativa por Fed

Analistas atribuem o fôlego da moeda americana neste início de ano principalmente a dois fatores: o aumento da percepção de risco fiscal, em meio à pressão de servidores federais por reajuste salarial e as apostas em alta de juros nos Estados Unidos já no fim do primeiro trimestre, às vésperas da divulgação da ata do mais recente encontro de política monetária do Federal Reserve.

Após uma primeira etapa de negócios de instabilidade e troca de sinais, o dólar à vista se consolidou em terreno positivo ao longo da tarde e, com aceleração dos ganhos no fim da sessão, encerrou em alta de 0,48%, a R$ 5,6900, acumulando valorização de 2,05% nos dois primeiros pregões de 2022.

Pela manhã, a moeda chegou a ultrapassar a linha de R$ 5,70, correndo até a máxima de R$ 5,7113 - o que alimentou especulações em torno de um eventual leilão de venda de dólares à vista pelo Banco Central. A autoridade monetária se limitou a fazer a rolagem de 17 mil contratos de swap cambial (US$ 850 milhões) que vencem em março, como programado. Já a mínima veio no início da tarde, quando o dólar desceu até R$ 5,6382 (-0,43%), em sintonia com alívio momentâneo no exterior.

Analistas atribuem o fôlego da moeda americana neste início de ano principalmente a dois fatores. No front doméstico, há o aumento da percepção de risco fiscal, em meio à pressão de servidores federais por reajuste salarial - que ganhou novo capítulo com a mobilização de funcionários do Banco Central - e a ameaças ao teto de gastos. Após o governo atender a reivindicação por aumento dos policiais, base de apoio de Bolsonaro, com previsão de R$ 1,7 bilhão no Orçamento de 2022, diversas categorias do funcionalismo passaram a pleitear reajuste.

"Não tem mais a pressão de fluxo de saída de dólares de fim de ano, mas a onda compradora continua com toda essa discussão fiscal", diz o head da tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, ressaltando as declarações ontem do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), de que é preciso repensar o teto de gastos, e o imbróglio da compensação ao INSS do valor da desoneração da folha de pagamentos.

O segundo fator de pressão sobre o dólar são as apostas em alta de juros nos Estados Unidos já no fim do primeiro trimestre, às vésperas da divulgação da ata do mais recente encontro de política monetária do Federal Reserve. "Existe uma especulação em torno de três altas da taxa de juros nos Estados Unidos neste ano, o que tem um impacto forte no dólar, que está se valorizando no mundo todo", afirma Zeller Bernardino, especialista da Valor Investimentos.

O índice DXY - que mede o desempenho da moeda americana em relação a seis divisas fortes - chegou a subir mais de 0,20% ao longo da manhã, mas perdeu força e passou a oscilar entre estabilidade e leve alta com dados abaixo do esperado da indústria e do emprego nos Estados Unidos. Mesmo assim, manteve-se acima da casa dos 96,000 pontos, com a moeda americana tendo atingido o maior nível ante o iene em cinco anos.

Em relação a divisas emergentes, o dólar teve um sinal predominantemente positivo, com ganhos de mais de 3% frente a lira turca, dada as preocupações com a inflação e a falta de independência do Banco Central turco, e de quase 1% na comparação com o rand sul-africano, considerado par do real.

Além da expectativa pela ata do Fed amanhã, o mercado aguarda pela divulgação, na sexta-feira (7), do relatório de emprego (payroll) nos EUA em dezembro - que pode reforçar os argumentos em favor de uma alta iminente dos juros. Em nota a clientes, o ING afirma que, embora a onda de casos da variante Ômicron possa enfraquecer temporariamente a economia dos EUA, os primeiros dados divulgados em 2022 sugerem que a atividade "está fundamentalmente muito forte, com crescimento robusto e inflação", o que sustenta a expectativa de três aumentos de juros neste ano. A Capital Economics acredita que os efeitos do aumento de casos de Covid-19, fruto do avanço da variante Ômicron, sobre o mercado de trabalho devem aparecer apenas em janeiro.

Para o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, há dúvidas a respeito dos impactos da Ômicron sobre as cadeias globais e, por tabela, nos gargalos de produção que alimentam parte da alta inflacionária global. "As infecções vêm crescendo, embora a mortalidade seja mais baixa. Mas há o receio de como isso vai afetar a economia global", diz Velloni. "Com o risco de pressão sobre a inflação, investidores estão se posicionando mais em dólar, o que pressiona as moedas emergentes".