Apesar da mudança na metodologia de cálculo do endividamento das famílias, o Banco Central registrou um novo percentual recorde de comprometimento da renda dos brasileiros com empréstimos. Em grande parte, a explicação está no fato de a inflação corroer o poder de compra da população e forçar o BC a elevar os juros, aumentando o custo do crédito.
Conforme dados divulgados ontem pela instituição, o endividamento total sobre a Renda Nacional Disponível Bruta das Famílias (RNDBF) passou de 50,4%, em setembro, para 51,2%, em outubro, o maior patamar da série histórica da autoridade monetária, iniciada em janeiro de 2005.
No acumulado do ano, o endividamento cresceu 9,2 pontos percentuais no indicador que calcula a relação entre o saldo dos financiamentos, incluindo o imobiliário, em relação à renda familiar acumulada em 12 meses. Conforme os dados do BC, o comprometimento da renda, de 27,9%, considerando os dados dessazonalizados, também é recorde desde o início da série histórica, em março de 2005.
A nova forma de cálculo adotada pelo BC inclui receitas extraordinárias além da massa salarial familiar calculada pelo IBGE. Com isso, estão incluídos na conta, por exemplo, o 13º salário, as horas extras e o auxílio emergencial concedido durante a pandemia da covid-19, que socorreu mais de quase 68 milhões de brasileiros em 2020, público que foi reduzido em 2021.
Com isso, a base para o cálculo da taxa de envidamento aumentou e, consequentemente, a taxa de endividamento, diminuiu. Na série anterior, no último dado disponível, de agosto, o endividamento das famílias também havia sido recorde e atingido 59,9% da massa salarial acumulada em 12 meses.
“A mudança da metodologia é importante porque o auxílio emergencial teve um peso importante na composição da renda das famílias durante a pandemia. O importante é que o endividamento das famílias, continua elevado”, alertou Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
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Crédito
O aumento do endividamento das famílias contribuiu para que o BC registrasse um salto de 13,9% no saldo de crédito ampliado ao setor financeiro e não financeiro em 2021 na comparação com 2020, totalizando R$ 13,6 trilhões (156,9% do Produto Interno Bruto — PIB). Houve desaceleração do ritmo de crescimento, que havia sido de 16,8% em 2020. Essa freada é resultado da retomada do ciclo de alta dos juros ao longo do ano passado.
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