Conjuntura

Inflação dos EUA bate recorde e presidente do Banco Central vai rever postura de juros

A alta de preços nos EUA têm causas comuns com o Brasil, e a principal delas é o encarecimento de insumos

Israel Medeiros
Fernanda Strickland
postado em 13/01/2022 06:00 / atualizado em 14/01/2022 16:06
 (crédito: GRAEME JENNINGS)
(crédito: GRAEME JENNINGS)

A inflação nos Estados Unidos chegou a 7% em 2021, o maior nível desde 1982, segundo o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês). Com a trajetória de alta dos preços, o presidente do Federal Reserve (o banco central norte-americano), Jerome Powell, já avisou que vai rever a postura com relação à taxa básica de juros, que esteve próxima de zero durante a maior parte da pandemia. Isso deve se de refletir nas economias de todo o mundo, especialmente em países emergentes, como o Brasil.

A alta de preços nos EUA têm causas comuns com o Brasil, e a principal delas é o encarecimento de insumos, que elevou os custos de produção. Em 2021, o barril de petróleo (brent) bateu os US$ 80 pela primeira vez em três anos, provocando elevação de preços dos combustíveis e produtos intermediários.

Além da alta no preço dos combustíveis, a pandemia, ao reduzir a produção em diversos países, provocou um “estrangulamento da logística”. “Todos os países importadores estão tendo atrasos na entrega de componentes para a indústria. Isso, à medida que a demanda se mantém inalterada, resulta em uma demanda maior do que a capacidade de produzir, e os preços sobem”, disse Otto Nogami, professor do Insper.

“É uma inflação de custos”, resumiu Hugo Iasco-Pereira, doutor em economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). "Cada país tem uma maneira própria de trazer esses custos para a economia doméstica. Nós temos toda essa discussão aqui, por exemplo, da Petrobras repassando preços com a alta do petróleo", pontuou.

O especialista avalia que a inflação é, de fato, um fenômeno global, mas nega que seja um impacto dos lockdowns com fechamento de comércio, como costumam dizer líderes negacionistas. "O resultado de 7% ao ano é um índice elevado para a economia americana. Mas a inflação não tem a ver com o lockdown, essa afirmação não é baseada em fatos, ciência, evidência, é uma afirmação política", disse.

Analistas apontam, ainda, o aumento do preço da mão de obra como um dos principais motivos da inflação nos EUA. André Braz, economista da Fundação Getúlio Vargas, vê a subida da inflação norte-americana como resultado de uma “política fiscal expansionista” do governo, que concedeu vouchers para a população e comprou títulos públicos injetando dinheiro no mercado. “Com esses movimentos, a economia de lá aqueceu, e, pela lei da oferta e da procura, com mais dinheiro, os preços avançaram, o que a autoridade monetária americana já esperava. Tanto é que o Fed estuda aumentar a taxa básica de juros”, explicou.

A alta de preços nos EUA pode resultar em um efeito cascata para a economia brasileira, tornando produtos — especialmente aqueles importados do país norte-americano — mais caros em solo nacional. No entanto, segundo Braz, o problema principal, para o Brasil, é que, quando sobem juros, as nações de economia forte, como os Estados Unidos, atraem investimentos, retirando recurso de mercados emergentes. “Aqui, no Brasil, a gente sobe juro e não atrai tanto investimento, porque existe uma incerteza doméstica muito grande, o que depõe um pouco contra a nossa recuperação”, apontou.

Para o economista, no caso do Brasil, as eleições deste ano devem ser decisivas do ponto de vista econômico e de controle da inflação. “Muitas promessas (de candidatos) são populistas, enfraquecem a política fiscal e aumentam o nível de incerteza — que já é bem alto. Então o equilíbrio da inflação nos Estados Unidos com o aumento de juros, pode atrair capital para a América do Norte e dificultar ainda mais a retomada da economia brasileira”, afirmou.

 

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