As chuvas registradas em diversas regiões desde meados de outubro já se refletem no nível de armazenamento dos principais reservatórios do País, mas ainda é cedo para assumir uma postura de "tranquilidade" para o setor elétrico, dizem especialistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado). Já para os consumidores, a melhora não deve ser perceptível nos próximos meses, pois não resultará em um alívio imediato nas contas de luz. A previsão é de que as tarifas vão continuar pesando no bolso dos brasileiros.
Em 2021, o País vivenciou a pior escassez nos últimos 91 anos. A situação mais grave foi no subsistema das regiões Sudeste e Centro-Oeste, considerado a "caixa d'água" do setor elétrico.
Em janeiro passado, o nível dos reservatórios era de 23,36% da capacidade total, e chegou a cair para 16,75% em setembro. Agora, pelos dados mais recentes do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a projeção é de que cheguem ao fim de janeiro com 40% de capacidade.
A previsão também é positiva para outras regiões. A expectativa é de que, no fim deste mês, os reservatórios atinjam 73,2% de capacidade no Norte e 70,2% no Nordeste. Já no Sul, as projeções indicam um nível menor do que o registrado nos últimos meses.
"Os reservatórios estão subindo, como sabemos está chovendo em várias regiões do País. Mas temos de esperar o final do período úmido, março ou abril, para termos essa tranquilidade. Por ora, podemos dizer que os reservatórios estão se recuperando bem", avalia o diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi.
Apagão fora do mapa
Na mesma linha, o chefe do centro de análise e previsão do tempo do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Francisco Diniz, avalia que é cedo para uma análise, mas que os reservatórios tiveram uma boa recuperação. Ele explica que deve haver uma estiagem nos próximos dias em regiões onde há reservatórios que atendem ao setor elétrico, mas que não se prolongará por muito tempo, e as chuvas devem voltar a acontecer no fim de janeiro e se intensificar ao longo do próximo mês. "Creio que vai ter um favorecimento melhor para frente para as regiões que têm reservatórios", afirmou.
O professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), Nivalde de Castro, afirma que a situação é melhor do que no ano passado e, considerando o cenário atual, não há risco de desequilíbrio entre oferta e demanda de energia. Contribuem para isso, segundo ele, as chuvas, a ampliação da capacidade instalada de geração de energia, com o início da operação de novos projetos, que vão injetar mais energia para atender os consumidores, e o nível fraco da atividade econômica.
"A oferta de energia cresceu. Em questão de armazenamento, pois está chovendo, e pela ampliação da capacidade instalada do sistema, com novas plantas, principalmente eólica e solar. Por outro lado, a demanda não vai crescer, por conta da crise econômica. Do ponto de vista do equilíbrio, o risco de apagão saiu do mapa. O problema agora é o custo", afirma. "Está chovendo bastante, essas tragédias que aconteceram no País indicam isso, e essa chuva é tão volumosa que é suficiente para atender à demanda e sobra água nos reservatórios."
As condições de atendimento do sistema elétrico serão analisadas hoje pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE). Na reunião mais recente, em dezembro, o colegiado, presidido pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, manteve algumas medidas excepcionais para garantir o atendimento da população em 2022.
Contudo, o grupo optou por limitar a geração de energia por térmicas e a importação de energia a 15 mil megawatts médios (MW médios) ao longo de dezembro. A decisão, segundo o governo, dá prioridade para o acionamento de usinas mais baratas.
Medidas deixam rombo para o consumidor
As medidas adotadas pelo governo para evitar apagões e racionamento no ano passado afastaram o risco de problemas no fornecimento de energia, mas tiveram um alto custo para os consumidores.
Conforme mostrou o Estadão/Broadcast, somente o uso de usinas térmicas e a importação de energia da Argentina e do Uruguai custaram R$ 16,8 bilhões até outubro. Mesmo a criação de uma bandeira mais cara, a escassez hídrica, não foi suficiente para cobrir todos os gastos e será necessário um novo aporte financeiro. O empréstimo evitará um tarifaço neste ano, mas será pago com juros no futuro.
O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Carlos Ciocchi, reconhece que as tarifas não devem ser barateadas no curto prazo. "A bandeira escassez hídrica já está planejada até abril e cobre custos já incorridos. Se terminarmos a estação chuvosa em bons níveis, aí, sim, teremos um custo menor durante o ano", explicou.
Os recursos arrecadados via bandeiras tarifárias até abril serão utilizados para cobrir os custos das ações referentes aos meses de setembro, outubro e novembro, que totalizam R$ 8,6 bilhões, e o déficit registrado antes da criação do novo patamar - que contabiliza R$ 5 bilhões até julho. O problema, no entanto, se prolongou. De acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a conta acumula um rombo de R$ 12,35 bilhões até novembro.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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