Se você tem sentido, quando faz compras no supermercado ou enche o tanque do seu carro com gasolina, que tudo está mais caro, você está certo.
No Brasil, a inflação fechou o ano de 2021 em 10,06%, a maior alta em seis anos, segundo o IBGE.
O Brasil está longe de ser o único que enfrenta um problema de aumento generalizado de preços — mas fatores domésticos se somaram aos motores externos e contribuíram para que o país registrasse uma das maiores inflações da região — a inflação no Brasil é 5ª maior da América Latina.
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O aumento da inflação é um fenômeno global após os efeitos econômicos causados ??pela pandemia de covid-19, inclusive com a maior economia do mundo passando por sérias dificuldades.
"Os Estados Unidos são o país desenvolvido com a inflação mais intensa", disse Keneth Rogoff, professor de Políticas Públicas e Economia da Universidade de Harvard, à BBC News Mundo.
A inflação dos EUA bateu em novembro o recorde de ser a mais alta dos últimos 39 anos, provocando um debate acalorado entre os que afirmam que é um problema transitório e os que acreditam que ela não desaparecerá tão rapidamente.
Outra das grandes economias do mundo, a Alemanha, também sofre com a alta dos preços. O índice de preços está disparando para seu nível mais alto em quase três décadas.
O que está acontecendo no mundo de hoje, segundo o economista, lembra fenômenos ocorridos nas décadas de 1970 e 1980, quando as pressões inflacionárias atingiram duramente países que, por diversos motivos, tiveram que enfrentar desafios de grandes proporções.
Nos mercados emergentes e economias em desenvolvimento, acostumados a enfrentar grandes crises econômicas, "a inflação baixa tem sido um fenômeno mais recente", argumenta Rogoff.
Em 1992, diz o economista, havia mais de 40 economias com inflação acima de 40%.
Este ano, um dos países que roubou as manchetes foi a Turquia, onde a inflação de 2021 subiu 36%, atingindo seu nível mais alto em quase 20 anos.
1. O que está acontecendo na América Latina?
Do ponto de vista histórico, as coisas estão muito mais calmas do que no passado.
Ainda assim, economistas tentam decifrar o quebra-cabeça de como conter a inflação em um cenário diferente dos anteriores e, ao mesmo tempo, chegar a uma recuperação econômica mais sustentada, considerando que nos últimos meses a ajuda fiscal para enfrentar os efeitos da pandemia diminuiu e a maioria dos países está com poucos recursos e muita dívida.
A América Latina sabe bem disso - atualmente é considerada a região com a maior inflação do planeta.
Embora os dados mais recentes ainda não estejam disponíveis para saber ao certo quanto a inflação subiu na América Latina em 2021, as projeções apontam para um patamar próximo de 12%.
E para este ano, embora os especialistas vislumbrem um cenário mais positivo, as expectativas ainda são permeadas por aquele sentimento de incerteza que mantém governos, bancos centrais, investidores e analistas em suspense, quando tentam prever como administrar o rumo econômico após a crise da pandemia.
2. Quais são as causas?
Ao contrário de outras ondas inflacionárias, a atual tem um fator comum para todos os países: congestionamentos nas cadeias de suprimentos que transportam produtos pelos mares do planeta, com uma "crise de contêineres" que causou gigantescas interrupções globais, com navios esperando semanas nos portos para descarregar seus produto, e um aumento histórico nas tarifas.
Em suma, se é mais caro levar os produtos às lojas, eles também sobem de preço para o consumidor.
Além disso, existem outras dificuldades, como a escassez de mão de obra nos países desenvolvidos, a falta de semicondutores para fabricar carros, computadores ou celulares.
Os preços também subiram, observam os economistas, devido à gigantesca quantidade de dinheiro injetada nas economias pelos bancos centrais e pacotes históricos de estímulo fiscal dos governos para mitigar estragos causados ??pela pandemia.
E como a recuperação econômica começou em 2021, após um 2020 de recessão, o rápido aumento do consumo, depois que muitas famílias gastaram menos durante os lockdowns e nos momentos mais críticos da pandemia, também contribuiu para aumentar os preços.
Dois fatores importantes se somam a esse coquetel: o aumento do preço da energia e dos alimentos.
Cada país tem seus próprios problemas, suas próprias desvalorizações da moeda local e seus próprios conflitos internos.
3. O que os países estão fazendo para conter a inflação?
Justamente por se tratar de um fenômeno global, as soluções típicas que poderiam ser encontradas dentro das fronteiras de cada país dependem em grande parte do que acontece no resto do mundo. Outro fator que afeta a economia é o ritmo mundial de vacinação e o potencial surgimento de novas variantes de covid-19.
Ainda assim, muitos países estão usando a principal ferramenta para lidar com qualquer inflação: o aumento nas taxas de juros.
À medida que as taxas de juros sobem, o custo do dinheiro emprestado aumenta, afetando empresas e consumidores que precisam de crédito para fazer investimentos ou comprar uma casa.
O problema é que na medida em que as economias tentam se reerguer da recessão, o crescimento econômico ainda é baixo (deixando de lado os números espetaculares de crescimento que vimos em 2021 que refletem estatísticas enganosas, porque é um efeito rebote, em cima de uma base de comparação muito baixa).
E as altas taxas de juros não estão ajudando a sustentar a recuperação.
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Como o aumento das taxas é a forma mais direta de controlar as pressões inflacionárias, muitos países estão recorrendo a essa medida. É o que vemos na América Latina, por exemplo, onde os bancos centrais vêm elevando as taxas de juros a toda velocidade para tentar frear os preços.
Especialistas esperam que essa tendência continue este ano.
Além das decisões "técnicas" de combate à inflação, há também as decisões políticas que influenciam o curso da economia.
As eleições presidenciais estão chegando este ano no Brasil e na Colômbia - fator de pressão política que também pode alterar as estratégias econômicas.
4. Por que o que acontece nos EUA é tão importante?
Os EUA, por sua vez, estão no meio de um turbilhão de taxas de juros, com o Federal Reserve (o equivalente ao banco central de outros países) no centro das discussões.
Nos EUA, as taxas de juro mantêm-se num nível próximo dos 0%, decisão que vem sendo criticada por diversos agentes do mercado, embora o Federal Reserve tenha antecipado que haverá aumentos ao longo deste ano.
A discussão gira em torno de quão rápido os juros devem subir e quão grandes serão os aumentos.
Não se deve esquecer que qualquer decisão tomada pelo Federal Reserve não afeta apenas os EUA, mas também cria reações imediatas nos mercados financeiros e gera consequências no restante das economias do mundo.
Essa questão é tão sensível que às vezes basta que haja uma mudança nas expectativas dos grandes investidores sobre o que o Federal Reserve poderia fazer para provocar uma reação imediata nos mercados.
Isso acontece porque qualquer movimento do Federal Reserve faz com que grandes fluxos de capital se desloquem de um lugar para outro no mundo em busca de melhores retornos.
E para os países cuja dívida pública é denominada em dólares, isso também afeta diretamente o nível de juros que terão de pagar para cumprir suas obrigações financeiras.
Na política interna, cresce a disputa sobre se o alto nível inflacionário nos EUA reflete um fracasso da estratégia econômica vigente ou se são as rupturas globais causadas pela pandemia.
Esses debates também estão ocorrendo em outros países à medida que aumentam as pressões para que as taxas de juros subam gradualmente, e quando muitos dos estímulos públicos extraordinários entregues aos mais afetados pela crise estão chegando ao fim.
Baixo crescimento econômico, alta inflação e menos benefícios fiscais não parecem uma boa combinação para nenhum governo.
Em uma perspectiva mais otimista, a maioria das previsões para este ano e o próximo sustentam que à medida que os meses passarem e as coisas voltarem a uma realidade mais parecida com os tempos pré-pandemia, as tensões que dilaceraram o mundo nos últimos dois anos tendem a diminuir.
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