Ao revisar de 2,1% para 1% a taxa de crescimento do PIB em 2022 no último Relatório Trimestral de Inflação (RTI), o Banco Central (BC) admitiu que a inflação continuará "persistente e elevada", reduziu de 2,2% para 1,1% a previsão de crescimento do consumo das famílias e revisou de 0,5% para 3% a estimativa de queda nos investimentos.
Durante a apresentação do relatório, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, adotou um discurso mais duro contra a inflação, admitindo até uma recessão na tarefa de cumprir a meta "prioritária" que é preservar o valor do real. "Os exemplos brasileiros mostram que você tem que colocar o país em recessão para recuperar a credibilidade", disse ele, durante a apresentação do RTI, reconhecendo a necessidade de o BC continuar elevando os juros para conter as expectativas do mercado. "Tudo está muito relacionado em um país como o Brasil com herança inflacionária recente. E entendemos que, para assegurar a inflação no centro da meta, é muito bom avançar nesse processo de normalização e passar a mensagem de que vamos seguir a meta. O processo vai se estender até quando as expectativas fiquem ancoradas", emendou.
Essa sinalização de Campos Neto, de acordo com analistas, pode confirmar a verdadeira independência do BC, que sempre evitou elevar muito os juros em anos eleitorais para não atrapalhar a reeleição dos governos. Em fevereiro deste ano, por meio da sanção da Lei Complementar 179/2021, foi instaurada a autonomia do BC. Com isso, o presidente e os diretores da instituição passaram a ter mandatos fixos, que não coincidem com o do presidente. Bem ou mal, as estimativas recentes para a inflação de 2023 começaram a cair, mas as de 2022 foram mantidas em um sinal de que, mesmo com os juros em 11,50% no fim do ano, a meta não será cumprida pela segunda vez consecutiva pelo atual governo.
"O BC vem mantendo o discurso de que a prioridade é a inflação, mas a aprovação da autonomia pelo Congresso foi condicionada à preocupação com o duplo mandato — ou seja, com a atividade econômica, como fazem os bancos centrais dos países desenvolvidos. É provável que, durante 2022, a autoridade monetária seja pressionada pelos parlamentares e pelo governo a cumprir o combinado", afirma Agostini, da Austin.
Ele reconhece que a aprovação da PEC dos Precatórios e do Orçamento de 2022, prevendo até reajuste de policiais, é prova de que a preocupação com o fiscal, que ajudaria o BC no controle da inflação, passou longe do Congresso e do Palácio do Planalto. "A moeda de troca para a aprovação da autonomia foi esse duplo mandato. E o BC vai ter o desafio de equilibrar os dois pratos. Sabemos que os congressistas e o governo não estão preocupados com a inflação e com o equilíbrio fiscal. Eles estão focados em manter os mandatos e, para isso, precisam ampliar os gastos para aumentar a popularidade", lamenta Agostini.
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