Inflação nas alturas

Presidente do BC fará carta para justificar inflação fora da meta

Roberto Campos Neto, assim como os antecessores, terá de explicar os motivos que levaram o BC a falhar no controle da inflação e apresentar soluções para o próximo ano

Israel Medeiros
postado em 02/01/2022 18:54 / atualizado em 02/01/2022 20:45
 (crédito: Raphael Ribeiro/BCB)
(crédito: Raphael Ribeiro/BCB)

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fará uma carta para justificar a inflação fora da meta no fim de 2021 e explicar como pretende resolver o problema. O texto será divulgado após os resultados consolidados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de dezembro, que trarão os resultados consolidados de 2021.

Trata-se de uma regra que obriga os presidentes do Banco Central a dar explicações. A carta será endereçada ao ministro da Economia, Paulo Guedes. Esta será a 6ª carta do tipo escrita por representantes do Banco Central. A primeira foi em 2001, escrita por Arminio Fraga Neto.

Depois, a “tradição” se repetiu em 2002, 2003, 2015 e a última carta, escrita por Ilan Goldfajn, foi divulgada em 2018. Na época, o índice que mede a inflação ficou em 2,95%, muito abaixo da meta, que era de 4,5%. A tolerância era de 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima.

Todos os que ocuparam a presidência do BC depois da implementação do regime tiveram que fazer a carta. Esta será a primeira assinada por Roberto Campos Neto, que teve um ano de 2021 turbulento, após a revelação, através da série de reportagens “Pandora Papers” de que tanto ele quanto o ministro da Economia, Paulo Guedes, possuem empresas em paraísos fiscais no exterior – as chamadas offshores.

Sendo a principal autoridade monetária do país, com influência direta na taxa de câmbio, Campos Neto disse que tudo o que possui no exterior está declarado e que não fez nenhuma remessa para empresas desde que chegou ao governo.

O ano de 2021 também foi marcado por uma inflação que cresceu rapidamente e chegou aos dois dígitos em 12 meses, algo que não ocorria desde 1994, quando o Plano Real foi implementado. De dezembro de 2020 e novembro de 2022 (12 meses), o IPCA acumulado foi de 10,74%.

Somente em novembro, o índice chegou a 0,95%. Isso representa 27,14% do total da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 3,5%, para todo o ano. As alterações na taxa básica de juros são uma das principais ferramentas do BC para tentar conter a inflação.

Por isso, diante da alta, o Banco Central mudou sua postura com relação à Selic, que foi diminuída ao menor nível da história: 2%, durante a pandemia, para tentar conter a crise econômica causada pelo novo coronavírus.

A subida na Selic começou ainda em março de 2021, quando subiu 0,75 pontos percentuais. Depois disso, o Comitê de Política Monetária do Banco Central aumentou a taxa seis vezes, ato que foi criticado por diversos especialistas que apontaram que a inflação atual não é causada por excesso de demanda, mas por uma alta nos custos de produção.

Portanto, não adiantaria aumentar juros, como pretende fazer novamente o Copom, na reunião marcada para os dias 1º e 2 de fevereiro. Na última reunião, no início de dezembro, a meta da Selic foi fixada em 9,25%.

Histórico da Selic em 2021

Reunião do Copom (nº) Data Meta - Selic
236 20/01/2021 2,00
237 17/03/2021 2,75
238 05/05/2021 3,50
239 16/06/2021 4,25
240 04/08/2021 5,25
241 22/09/2021 6,25
242 27/10/2021 7,75
243 08/12/2021 9,25

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