Regras para a corrida eleitoral

Não será fácil resgatar o crescimento nos próximos anos, especialmente com a piora da imagem do país no exterior por conta do aumento do desmatamento na Amazônia e por conta da deterioração do quadro fiscal promovida pela PEC dos Precatórios e o Orçamento. É o que afirma Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

"A tendência é de a volatilidade e a incerteza permanecerem por um período mais longo nos próximos anos. Fica difícil crescer dessa forma, especialmente, em um mundo que está mais competitivo e gerando crescimento de produtividade em diversos países que estão fazendo reformas e acordos comerciais que o Brasil não está fazendo. A África do Sul, por exemplo, fez acordo de livre comércio com todos os países vizinhos e o Brasil não tem conseguido avançar nessa agenda", alerta.

"Olhando para frente, o país vai ter de reverter a perda da reputação nos últimos anos das questões ambiental e fiscal que serão bem difíceis de serem feitas", destaca Vale.

A MB prevê zero de crescimento PIB em 2022, mas o Credit Suisse não está sozinho ao prever PIB negativo em 2022. O brasileiro Itaú Unibanco e o chinês Haitong, por exemplo, estimam quedas de 0,5% e de 0,4% no ano que vem. Para 2023, as projeções desses dois bancos são mais pessimistas do que as do Credit, que espera alta de 2,15% no PIB brasileiro. Enquanto o Itaú prevê alta de 1% no PIB, Haitong estima avanço de 1,2%.

Potencial baixo

A falta de crescimento do PIB nos últimos anos fizeram o PIB potencial encolher, de acordo com analistas. Eles reconhecem, que atualmente, essa capacidade natural de expansão do país varia entre 1,5% e 2%, mas já foi o dobro disso.

Contudo, pelos cálculos de Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos, é provável que o PIB potencial já esteja abaixo de 1%. "De seis a oito anos o PIB cresce pouco e esse é um grande problema para a dívida pública, que dificilmente vai encolher. Se não houver uma mudança drástica para melhorar esse cenário não será possível crescer", afirma.

Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, também reforça que essa redução do PIB potencial é muito ruim para a trajetória da dívida pública, porque ela tende a crescer mais a longo prazo quando não há expansão da economia. Ele prevê 4,5% de crescimento no PIB deste ano e destaca que o carregamento estatístico do PIB de 2020 será de 3,7%, o que leva a uma taxa bem baixa de crescimento, de 0,8%. E, para 2022, ele prevê um crescimento de 0,6%, o que também é baixo.

"Esses dados somam-se ao desempenho mais fraco que vimos entre 2017 e 2019 e, aparentemente, o país cresce em média de 1% a 1,5%. É possível que as duas recessões (2015-2016 e 2020) desta última década possam ter penalizado ainda mais a capacidade de crescer do país, podendo levar o país para um cenário de uma recessão leve ou de leve crescimento. Isso reforça o debate sobre a capacidade de crescer por conta das recessões sequenciais e o fato é que há uma apreensão no ar", afirma Padovani. (RH)