Apesar de ter encaminhado ao Congresso, na quinta-feira, o pedido de reserva de R$ 2,8 bilhões no Orçamento de 2022 para reajuste e reformulação da carreira de policiais, o ministro da Economia, Paulo Guedes, negou que tenha concordado com a medida. E afirmou que alertou integrantes do governo sobre os riscos inflacionários da decisão.
"Foi a Junta Orçamentária. O pedido veio da classe política, eu estou na outra ponta", afirmou o ministro, ontem, a jornalistas. Ele contou que foi voto vencido, e alertou para os riscos inflacionários de reivindicações em cascata de outras categorias do funcionalismo e de uma onda de aumentos salariais nos governos estaduais em ano eleitoral. Contudo, ele admitiu que o presidente quer privilegiar a categoria que sempre o apoiou.
"Eu disse: vamos segurar o negócio porque a inflação vai descer no ano que vem e vai ser melhor para todo mundo", contou ele, em referência à reunião que teve com Bolsonaro e o ministro da Justiça, Anderson Torres.
De acordo com Guedes, a melhora nas contas públicas dos estados é decorrente, em grande parte, do congelamento dos salários nesses dois anos. Um reajuste do funcionalismo agora, acrescentou, é "uma ameaça para o futuro". Ele disse que, se a inflação continuar subindo, o Auxílio Brasil, de R$ 400 não vai ser suficiente para cobrir as despesas básicas do cidadão e vai ter que subir para R$ 600 ou para R$ 800.
O ministro aproveitou para criticar governadores que já estão prometendo reajustes com objetivos eleitoreiros, colocando o país em uma "espiral inflacionária do passado". "Tem estado querendo entrar no Regime de Recuperação Fiscal e quer dar reajuste", denunciou.
"Se sair uma onda generalizada de reposição de salários, quando a economia acaba de se levantar (da crise provocada pela pandemia) e a inflação está subindo, vamos romper o compromisso com as gerações futuras", afirmou Guedes. "Quem pede aumento de salários está dizendo: já tomei a vacina e quero meu dinheiro de volta. Quero renegar o meu sacrifício. Se fizermos isso, vamos rolar para a frente esse endividamento, para nossos filhos e netos", emendou.
Na avaliação do ministro, o país está indo na contramão da experiência "extraordinária" durante a pandemia, quando o aumento de gastos para conter os efeitos da covid-19 tiveram como contrapartida o congelamento de salários nos governos federal e regionais, em uma espécie de pacto federativo. Ele frisou que o deficit primário do governo, depois de ter chegado a 10,5% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2020, deverá cair, neste ano, para 1% do PIB e, em 2022, para 0,4% do PIB, um "ajuste fiscal que não foi feito em nenhum país do mundo". "Comprovamos que nenhuma crise fiscal dura um ano e meio. Tivemos coragem de fazer direito em tempo de guerra e, agora, vamos jogar a experiência fora para voltar ao passado desastroso", alertou.
Na avaliação do ministro, apesar da alta dos juros promovida pelo Banco Central para controlar a inflação, o crescimento em 2022 virá dos investimentos privados uma vez que, com as concessões na área de infraestrutura, há mais de R$ 800 bilhões de investimentos comprometidos para os próximos anos e, no ano que vem, o governo espera mais de R$ 400 bilhões em novos leilões. "Com isso, teremos R$ 1,2 trilhão de investimentos e vamos conseguir fazer a taxa de investimento voltar a ficar acima de 20% do PIB", disse.
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Privatizações
Guedes ainda afirmou que considera "inadmissível" o governo não conseguir privatizar, pelo menos, uma empresa, por conta de resistências de outros Poderes.
"É inadmissível que não se consiga vender. Senão fica parecendo que é operação tartaruga, para descumprir a vontade popular", afirmou, tentando justificar a falta de cumprimento da promessa de arrecadar R$ 1 trilhão com a venda de estatais federais. "O presidente se comprometeu com o programa de privatização. Na hora que vai privatizar, outros Poderes impedem", reclamou.
Guedes voltou a prometer que pretende privatizar os Correios e a Eletrobras no ano que vem. "É perfeitamente natural que consigamos vender duas empresas que estão descapitalizadas e vão ser condenadas à irrelevância se continuarem (sendo estatais)", disse.
O ministro reforçou o discurso de que a Eletrobras precisa investir R$ 15 bilhões "para manter a fatia de mercado", mas só consegue investir R$ 3,5 bilhões. Apesar de o processo da estatal de energia ter tido vários adiamentos no Tribunal de Contas da União (TCU), ele disse que a privatização da companhia está "mais encaminhada" do que a dos Correios, cujo projeto de lei está parado no Senado. "Os Correios podem se tornar algo parecido com a DHL (gigante alemã de logística) quando foi privatizada. Mas ela (a estatal brasileira) precisa ser libertada das más administrações do passado", afirmou.