Trabalho

Contrato de aplicativo na mira

Segunda turma do TST forma maioria para reconhecer vínculo empregatício entre Uber e motoristas, mas entendimento contraria decisões anteriores de outras turmas. Plenário deve ser chamado para uniformizar parecer da Corte

Dois dos três ministros da 3ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho (TST) reconheceram o vínculo de emprego entre motoristas e a Uber. O processo, que começou em dezembro de 2020, foi retomado ontem pela Corte trabalhista, mas o julgamento foi suspenso por pedido de vista do ministro Agra Belmonte. Relator do caso, o ministro Mauricio Godinho Delgado proferiu o voto em dezembro de 2020. A sessão desta quarta-feira foi reiniciada com o posicionamento do ministro Alberto Luiz Bresciani.

Trata-se da primeira decisão, por maioria do colegiado, a favor do vínculo empregatício de motoristas do aplicativo. Pelo menos outros quatro processos passaram pela 4ª e pela 5ª Turma do TST (ao todo, o tribunal possui oito turmas), que negaram os pedidos dos motoristas e foram, portanto, favoráveis à Uber.

O entendimento anterior foi o de que não existe subordinação do trabalhador à empresa, visto que os motoristas têm flexibilidade para escolher quando e onde vão dirigir, além da quantidade de passageiros que vão transportar. Após a conclusão da votação na 3ª Turma, o julgamento deve ser levado ao plenário do TST para uniformizar o entendimento do tribunal.

Controle

O relator do caso, ministro Maurício Godinho, entende que a Uber exerce rígido controle sobre a atividade dos motoristas. Além de monitorar o trabalho dos profissionais o aplicativo permite que os clientes façam reclamações à empresa — características, que segundo ele, denotam o vínculo empregatício.

O ministro Alberto Bresciani acompanhou o relator. Ele afirmou que, na União Europeia, a Justiça decidiu que a Uber é uma empresa de transporte, e que países como Inglaterra, França, Suiça e Itália vêm decidindo pela existência de vínculo.

Em nota, a Uber informou que considera isolado o entendimento da 3ª Turma e que vai aguardar o voto final para se pronunciar sobre o caso.

O caso não é inédito. Outras empresas que operam por meio de aplicativos — de transporte de passageiros a entrega de refeições — são alvo de dezenas de ações na Justiça que colocam em xeque a natureza do relacionamento com os profissionais que contratam para a prestação dos serviços.