Guedes admite atender policiais

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que "não é oportuno" um reajuste salarial para todos os servidores públicos no ano que vem, de forma linear. Contudo, ele sinalizou ser favorável a novo aumento de salário para algumas categorias, como a dos policiais, como vem sendo defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).

"Se aproveita e generaliza aumento de salário para o Brasil inteiro, para o funcionalismo em geral, estadual, municipal e federal, você vai fragilizar as finanças de todo mundo de novo", disse o ministro a jornalistas, em São Paulo, após participar de um evento com empresários na Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).

O chefe da equipe econômica mostrou-se favorável à reestruturação de carreiras, principalmente, a de policiais, mas reconheceu os riscos fiscais de um reajuste generalizado do funcionalismo para corrigir as perdas da inflação de dois dígitos deste ano. "Estamos conversando, pode até se fazer reestruturação, uma reforma, mas tem que ser um negócio especifico, muito localizado e muito limitado em números", afirmou.

O especialista em contas públicas Murilo Viana considera a sinalização do presidente para dar reajuste aos policiais como uma "decisão política". "O espaço no teto de gastos criado com a PEC dos Precatórios é curtinho para tanta demanda, inclusive dos congressistas em relação a emendas de relator e fundo eleitoral mais robusto", afirmou. "O governo quer atender os policiais, grupo mais fiel ao bolsonarismo", resumiu.

Viana lembrou que, se fosse conceder reajuste para todas as categorias, o custo anual seria de R$ 4 bilhões para cada ponto percentual de alta, de acordo com estimativas da Instituição Fiscal Independente (IFI), vinculada ao Senado. "Com um inflação de 10% neste ano, esse valor poderia beirar a R$ 40 bilhões."

Os policiais e os militares não tiveram congelamento de salários, como ocorreu com os servidores civis nos últimos dois anos.

Pressão

Analistas afirmam que outras categorias devem revindicar por reajustes em 2022, e, se o governo conceder novo reajuste aos policiais, a pressão vai aumentar.

O secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), Sérgio Ronaldo da Silva, disse que o governo exerce "uma seletividade" nos reajustes salariais.

Para Rudinei Marques, presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas do Estado (Fonacate), é natural que os policiais procurem buscar a recomposição do poder de compra. Mas ele defendeu que outras categorias também busquem negociação.

*Estagiários sob a supervisão
de Odail Figueiredo