O ministro da Economia, Paulo Guedes, reconheceu que, por conta da pandemia, cujo combate foi “muito difícil”, algumas ‘batalhas” ficaram pelo caminho, ao tentar se defender das críticas da falta de avanços nas promessas feitas por ele no primeiro mandato. Ele disse também sentir um “gosto amargo” por não conseguir emplacar a reforma administrativa.
“Deixamos algumas batalhas pelo caminho que deviam ser feitas. A pandemia tirou energia, mas conseguimos retomar a agenda de reformas”, disse Guedes, nesta quarta-feira (15/12), em evento de empresários organizado pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). Ele citou, como exemplo, a autonomia do Banco Central (BC) e voltou a afirmar que pretende avançar na privatização dos Correios e da Eletrobras — as duas sobraram da lista prometida pelo ministro e podem não acontecer no ano que vem.
Paulo Guedes reclamou da falta de avanço da reforma administrativa, que está travada no Congresso. “Não vamos atingir nenhum direito de funcionário público. Estamos desenhando um futuro melhor”, afirmou. “Essa reforma me dá um gosto amargo, porque poderíamos ter feito”, lamentou. Segundo ele, a proposta garantiria uma economia anual de R$ 30 bilhões a R$ 40 bilhões por ano, com a digitalização de serviços.
Em relação à reforma do Imposto de Renda, que está parada no Senado após ter sido aprovada pela Câmara, Guedes afirmou que “sentaram em cima” da proposta do Executivo que propõe taxação de 15% sobre os dividendos e redução de 36% para 26% do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ).
“Estamos a um milímetro disso ser aprovado. Mas sentaram em cima. Isso dá uma frustração porque a gente sente que o futuro está ali”, afirmou ele, comparando que os países da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) baixaram os impostos sobre as empresas enquanto o Brasil aumentou “nos últimos 40 anos”.
“O futuro está próximo. Mas é aquele negócio, não dá para compensar, em quatro anos, o que foi feito em 40 anos. Tem que ter um pouco de paciência. Democracia é isso mesmo”.
“Pancadas”
Em discurso eleitoreiro, ao lado do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, Paulo Guedes voltou a reclamar das críticas e partiu em defesa do governo. E chegou a afirmar que votaria no colega de governo “se ele fosse candidato”. Freitas é cotado para disputar o governo do Estado de São Paulo.
Guedes reconheceu que, em 2022, a economia deve crescer menos do que neste ano, porque será preciso “combater a inflação”, mas não deu números. A previsão atual da pasta é de que a economia deverá crescer 2,1%, mas a mediana das estimativas do mercado é de avanço de 0,5%.
“A gente acaba levando umas pancadas, às vezes, por conta do excesso de franqueza. Temos nossos defeitos e nossas virtudes. Mas temos mais virtudes do que o resto”, afirmou o ministro. Ele ainda saiu em defesa do governo, que vem caindo nas pesquisas de avaliação do eleitor. “Eu vejo um governo motivado querendo fazer o melhor trabalho possível”.
Críticas ao FMI
O chefe da equipe econômica voltou a criticar o Fundo Monetário Internacional (FMI) e disse que está "dispensando'' a missão do Fundo ao país. “Eles estão aqui já há bastante tempo. Vieram há muito tempo no Brasil porque tinha o que fazer, porque aqui vivia sempre em desequilíbrio. Nós estamos até dispensando, dizendo: ‘Olha, pode voltar’. Eu assinei agora há uma semana. Estão dispensados. Podem passear lá fora", afirmou.
De acordo com o ministro da Economia, no ano passado, vieram ao país para prever uma queda de 9,7% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, e que na Inglaterra iria cair 4%. “Nós caímos 4% e a Inglaterra caiu 9,7%. Estou achando melhor eles fazerem previsão em outro lugar", disse sendo ovacionado pela plateia de empresários, que chegou a aplaudir os palavrões que o presidente Jair Bolsonaro proferiu pouco depois.
“Acho que o Brasil está entrando nessa rota do crescimento sustentável. Será um ano difícil ainda em 2022 porque estamos tentando uma velocidade de escape dessa rota da miséria e fomos abatidos pela covid. Mas botamos o país em pé, vacinamos todo mundo. Estamos voltando ao trabalho e estamos agora em cima de desenvolvimento sustentável: mineração, gás natural, cabotagem, setor elétrico”, afirmou.
O ministro também reforçou que os ruídos do mercado estão relacionados com o cenário político. “Temos um Congresso reformista apesar de toda barulheira política. A verdade é que tem havido cooperação entre os Poderes. As coisas rodam, rodam, rodam, mas acabam se acertando. O Brasil está desempenhando bem economicamente apesar das narrativas que falsificam e que erram sucessivamente”, disse ele, voltando a afirmar que o país cresceu em V e que, no ano que vem, o país vai crescer. “'Ano que vem não vai crescer, vai cair'. Vamos esperar. Eles vão errar de novo”, apostou.
Paulo Guedes também voltou a afirmar que o Brasil será a maior fronteira de investimentos do mundo, devendo atrair "bilhões e bilhões" de investimentos na economia verde.
Escorregada
Ao rebater as críticas sobre a alta do preço do gás, apesar de Guedes ter prometido energia "mais barata" quando o marco do gás foi aprovado, ele justificou: “Tem dois meses”. Na verdade, a matéria foi aprovada pelo Congresso em março, ou seja, há nove meses.
“Quando é que aprovaram o marco do gás? Tem dois meses. Quer dizer, foi apresentado há dois anos, mas aprovado há dois meses. Como é que vai, por milagre, o gás ficar barato se ficou dois anos parado lá? Temos uma explicação: Não vou nem culpar o Congresso. Foi a covid. Fomos combater o vírus e esquecemos do gás. Então, não pode a energia ficar barata se o projeto ficar parado dois anos e depois cobrarem que a gente não entrega o projeto. Nós vamos reindustrializar o Brasil em cima de energia barata", disse o ministro.