O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central confirmou o que especialistas do mercado financeiro já previam: a taxa básica de juros (Selic) deverá se manter na casa de dois dígitos no próximo ano, com expectativa de altas taxas (embora menores) também para 2023. A afirmação veio por meio da ata da última reunião do colegiado, realizada nos dias 7 e 8 de dezembro, divulgada na terça-feira (14/12).
De acordo com a trajetória dos juros extraída da pesquisa Focus com a taxa de câmbio a R$ 5,65 (USD/BRL), no cenário básico, a Selic deverá evoluir em paridade com o poder de compra (PPC). As projeções de inflação do Copom situam-se em torno de 10,2% para 2021, 4,7% para 2022 e 3,2% para 2023. “Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 9,25% ao ano em 2021 e para 11,75% durante 2022, terminando o ano em 11,25%”, diz nota técnica assinada pelos membros do Copom. Já para 2023, a inflação prevista pela autarquia se mantém em 8,00% a.a.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, destaca que esse ciclo de aumento nos juros para normalização monetária é um movimento global, devido à inflação elevada em grande parte do mundo, que atinge, especialmente, nos países emergentes. “A gente vê o Brasil em destaque no aumento da inflação (...) e de fato esse aperto monetário tem implicado no mundo emergente”, disse na terça, em evento promovido pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
Na oportunidade, Campos Neto defendeu a necessidade dos ajustes da Selic para trazer credibilidade junto aos investidores estrangeiros no país, mas reconheceu que o Brasil se sobressaiu quanto às consecutivas altas na taxa básica de juros e no distanciamento da meta do Banco Central. “O Brasil precisa de investimento externo para gerar crescimento, uma vez que a parte fiscal basicamente está exaurida (...) Em termos de juros, o Brasil foi o que subiu mais. Quando a gente mede o descolamento da meta, a gente de fato tem um descolamento para baixo muito alto, sobre quando os juros estavam a 2%”, afirmou.
Na análise de Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, em 2022, os juros poderão chegar a patamares ainda maiores do que os previstos pelo Copom. Isso porque, segundo o especialista, a autoridade monetária não trouxe à mesa o debate sobre a desancoragem para baixo, caso o cenário da inflação seja ainda mais rígido do que o atual. “Em outras palavras, ao passo de reajustes de 1,5% na Selic e com o ciclo de aperto monetário mais contracionista do que o utilizado no cenário básico, os juros terão que ir além dos 11,75% previstos no Focus para cumprir sua atribuição”, explica Sanchez, ao reforçar a conduta “hawkish” do Banco Central do Brasil, ou seja, com ajustes de juros a fim de controlar a inflação.
Papel do Estado
Ainda segundo Sanches, a perspectiva nesse cenário é de que o BC eleve a taxa básica de juros em 1,5% mais duas vezes, em fevereiro e março do próximo ano, interrompendo o ciclo de alta “abruptamente” no final do primeiro trimestre, com a Selic a 12,25%.
“Esse cenário com interrupção abrupta se dá pela convergência, mas também pela ancoragem, algo que tem sido reiteradamente repetido pela autoridade. A taxa de 12,25% deverá permanecer até o final de 2022, com início dos cortes apenas em 2023”, afirma.
A economista Camila Abdelmalack, da Veedha Investimentos, alerta que, ao adotar essa política de controle fiscal por meio do aperto monetário, o BC exerce um papel que deveria ser do Estado. “Fica claro que o BC está bem preocupado com a condução da política fiscal e com essa questão do gerenciamento das contas públicas, o que não permite um vislumbramento, pelo menos no curto prazo, de uma melhora em relação a essa curva de juros. Para tentar conduzir essa situação inflacionária e não comprometer a meta para 2023, infelizmente, a gente vê um BC assumindo um papel por conta da ineficiência da gestão de contas públicas”, afirma.