O ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a falar que o PIB está decolando e disse que os temores do mercado de descontrole das contas públicas são "conversa fiada". Para analistas, Guedes vive em um "mundo paralelo", desconectado da realidade.
"Não existe retomada em V de verdade da economia, sim, um crescimento medíocre. O PIB perdeu o fôlego e não voltou ao patamar do quarto trimestre de 2019. A desaceleração está mais intensa e o crescimento de 1,1% nos serviços não foi suficiente para compensar a queda da agricultura e a estagnação da indústria", afirma Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Ela destaca que o Brasil tem um problema estrutural muito sério para crescer e não comporta taxas elevadas para o PIB. "Se o país estivesse crescendo mesmo, estaríamos falando de racionamento de energia. Por isso, a economia não consegue decolar muito, porque não tem combustível. E sem uma boa infraestrutura de energia, não vai conseguir crescer", alerta.
Aliás, um dos fatores que devem travar o crescimento do PIB no ano que vem e ajudar nas previsões de PIB negativo será justamente a Selic em dois dígitos. Pelas estimativas do economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves, em 2022 — que prevê queda de 0,2% no PIB do próximo ano —, a Selic encerrará o ano em 12%, "se não acontecer nada".
"Este país é meio temperamental e é difícil fazer projeções em um ano eleitoral. Com essa nova variante, vamos voltar para um nível de incerteza que não é igual ao de março deste ano, mas pode ser pior, dependendo do impacto da Ômicron, porque haverá menos atividade na economia", admite Gonçalves. Ele adianta que o PIB do quarto trimestre será "muito ruim", podendo registrar taxas entre -0,5% e -1%, confirmando uma nova recessão em curso. "O Banco Central está sozinho e precisa cumprir os objetivos da política monetária. Ele passou a olhar a meta de 2023, mas tudo indica que essa meta também poderá não ser cumprida", complementa. (RH)