A produção industrial apresentou queda de 0,6% na passagem de setembro para outubro, quinto resultado negativo mensal consecutivo, acumulando, nesse período, perda de 3,7%. O recuo de outubro alcançou 19 dos 26 ramos pesquisados. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano, a indústria acumula alta de 5,7%; mesmo número do acumulado de 12 meses.
Para o gerente da pesquisa do IBGE, André Macedo, a sequência de resultados negativos chama a atenção. "A cada mês que a produção industrial recua, se afasta mais do período pré-pandemia. Neste momento, está 4,1% abaixo do patamar de fevereiro de 2020", analisou.
"Para além da perda na margem, há um espalhamento dos resultados negativos: são três das quatro categorias econômicas e 19 das 26 atividades no campo negativo. O ano de 2021 está marcado por esse comportamento de menor intensidade", observou Macedo. Na quinta-feira, ao divulgar os dados do PIB no terceiro trimestre, o IBGE mostrou que o setor permaneceu estagnado no período.
O gerente destacou que os efeitos da pandemia sobre o processo produtivo ficam muito evidentes em função da desarticulação da cadeia produtiva, o que levou ao aumento dos custos de produção e ao desabastecimento de matérias primas e insumos.
"As quedas foram disseminadas, mas as maiores influências vieram dos setores extrativos, impactados pelas quedas do minério de ferro e do petróleo; e das indústrias de alimentos, influenciadas pelo comportamento negativo do açúcar, em função de uma antecipação da safra da cana-de-açúcar na região Centro-Sul do país, devido a condições climáticas adversas", esclareceu Macedo.
Para o economista autônomo, Hugo Passos, a queda esta acontecendo devido a falta de abastecimento de matéria-prima, aumento dos custos, a falta de confiança por parte dos empresários devido a atual conjuntura e baixa confiança do consumidor por causa do impacto da inflação no bolso das famílias. "São uns dos fatores que justificam a crescente queda da produção industrial", explica.
Passos afirma também que para ter uma melhora na situação, será necessário dar andamento nas reformas tributária e administrativa, controlar a inflação e gerar emprego e renda para as famílias. "É preciso também monitorar de perto a nova variante do coronavírus, Ômicron, que pode impactar o crescimento econômico com possíveis novas restrições", afirma.
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Perda de eficiência
Além de produzir menos, a indústria brasileira vem perdendo eficiência. A produtividade do trabalho no setor, medida pela relação entre o volume produzido e as horas trabalhadas na produção, caiu 1,3% no terceiro trimestre, em relação aos três meses anteriores, segundo estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Com isso, o indicador retornou ao patamar do segundo trimestre de 2020, momento mais grave da crise causada pela pandemia de covid-19.
A produtividade está em queda desde o último trimestre de 2020. A pesquisa revela que o volume produzido no terceiro trimestre de 2021 recuou 1,9% em relação ao segundo trimestre deste ano. Já as horas trabalhadas caíram 0,6% na mesma base de comparação. No confronto com o terceiro trimestre de 2020, último período de alta do indicador, a perda acumulada chega a 7,6%.
As quedas consecutivas refletem o ambiente de elevada incerteza, prejudicial ao investimento e, consequentemente, à recuperação da produtividade, explica a gerente de política industrial da CNI, Samantha Cunha. No curto prazo, pesam dificuldades como a falta de insumos e a pressão sobre os custos de produção.
De acordo com o estudo, 2021 será o segundo ano consecutivo de recuo da produtividade, que deve cair mais de 2%. A maior queda registrada pelo indicador desde o início da série histórica, em 2000, foi de 2,2%, em 2008, ano marcado pela crise financeira global.