Um dos principais elementos para a composição do Produto Interno Bruto (PIB), o consumo das famílias teve um incremento de 0,9% no terceiro trimestre de 2021 em comparação ao trimestre anterior. Já com relação ao mesmo período de 2020, a alta foi de 4,2%. Mesmo com a inflação ultrapassando os dois dígitos em 12 meses e o ritmo de estagnação econômica, os indicadores ficaram acima de estimativas de mercado, que apontavam para algo em torno de 0,8%.
O cenário é diferente daquele visto em 2020, quando, com a chegada da pandemia do novo coronavírus, o governo precisou apelar ao "consumo na veia" fornecendo assistência social para tentar segurar a crise que se abateu sobre o país. O Auxílio Emergencial, no entanto, chegou ao fim, mas o índice de desemprego, segundo o IBGE, recuou com relação ao fim do ano passado. Em novembro de 2020, a taxa era de 14,1% e, em novembro deste ano, recuou para 12,6%. Mesmo assim, o número de desempregados passa dos 13,5 milhões.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o resultado positivo no consumo das famílias foi influenciado pelo aumento na ocupação no mercado de trabalho e também pela expansão da oferta de crédito a pessoas físicas. Aliado a isso, está o avanço da imunização, que já atinge mais de 63% da população com ciclo vacinal completo.
Estudos mostram que, diante de um cenário de inflação alta, quem mais sofre são os pobres, que naturalmente revertem mais sua renda para consumo. Moradora do Sol Nascente, região periférica de Brasília, a fotógrafa e manicure Jucilene da Silva Lima, 29, conta que paga as despesas de casa com a renda do trabalho e a pensão dos três filhos. "Desde que começou a pandemia, está tudo muito difícil. Na comunidade onde moro, a distribuição de cestas básicas vem ajudando muito minha família", disse.
A carestia, segundo ela, tem sido a principal vilã do orçamento doméstico. "As coisas estão muito caras. Você vai ao mercado com R$ 100 e não compra quase nada", desabafou.
Quando o orçamento aperta, a tendência é de que as famílias passem a gastar mais com aquilo que é essencial. Nesse caso, a demanda pelo setor de serviços — que é obrigado a aumentar preços para acompanhar os valores praticados por fornecedores — cai.
O empresário Luiz Gustavo Lima, 32, dono da rede de restaurantes QG Jeitinho Caseiro explica que o mercado gastronômico é impactado diretamente pelo repasse do preço dos insumos. Isto é, os ingredientes dos pratos do cardápio.
"Nossos custos aumentaram de 5% a 10%. Impacta muito no faturamento", disse. "Se aumentarmos proporcionalmente o preço aos clientes, teremos diminuição nas vendas", completou.
Ainda assim, explicou o empresário, o estabelecimento repassou uma parte dos custos aos clientes. Questionado se o público reclama da mudança dos preços, ele afirmou: "Está tão comum o aumento dos preços, sobretudo nos supermercados e até no valor da gasolina, que alguns clientes até reclamam, mas entendem".
Para o Ministério da Economia, os números do IBGE refletem a forte recuperação do setor de serviços, que "condiz com a melhora no mercado de trabalho e aumento da mobilidade".
*estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo