O mercado de trabalho absorveu mais de 3 milhões de trabalhadores no trimestre encerrado em outubro, entre formais e informais, reduzindo a taxa de desemprego para 12,1% — ante 13,7% no trimestre até julho. No entanto, a renda média do trabalho desceu ao pior nível da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 pelo IBGE. Na comparação com o trimestre anterior, a queda é de 1,6 ponto percentual.
André Perfeito, economista-chefe da Necton, observa que o número de pessoas que estão em busca de trabalho no país caiu 10,4%, chegando a 12,9 milhões. “Já o contingente de pessoas ocupadas, segundo os dados, aumentou 3,6%, o que representa 3,3 milhões de pessoas a mais no mercado de trabalho em relação ao trimestre encerrado em julho. Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, houve aumento de 8,7 milhões de trabalhadores”.
“O rendimento médio real habitual está no pior nível da série iniciada em março de 2012, em R$ 2.449. Mais emblemático do que isso é quando observamos a massa salarial, ou seja, a quantidade de ‘dinheiro na mesa’ por assim dizer. Estamos no mesmo patamar do pior momento da crise da pandemia e, neste sentido, de pouco adiantou o esforço feito pelo governo uma vez que o que foi dado com uma mão foi retirado com a outra via inflação”, observa Perfeito.
A coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy, afirma que a queda na taxa de desocupação está relacionada ao crescimento da ocupação, como já vinha acontecendo nos meses anteriores. “O aumento no número de ocupados ocorreu em seis dos 10 grupamentos de atividades, a exemplo do comércio, da indústria e dos serviços de alojamento e alimentação”.
Segundo Beringuy, com esse crescimento, o nível de ocupação, que é o percentual de pessoas em atividade na população em idade de trabalhar, subiu para 54,6%, o maior desde o trimestre encerrado em abril do ano passado.
Os dados mostram também que o aumento na ocupação foi influenciado pelo número de empregados com carteira de trabalho no setor privado, que chegou a 33,9 milhões, crescimento de 4,1% frente ao trimestre anterior. A coordenadora explica que isso significa 1,3 milhão de pessoas a mais.
“Do aumento de 3,3 milhões de pessoas na ocupação, 40% são trabalhadores com carteira assinada no setor privado. Essa recuperação do trabalho formal já vinha ocorrendo nos meses anteriores, desde o trimestre encerrado em julho. Então, embora o emprego com carteira no setor privado ainda esteja em um nível abaixo do que era antes da pandemia, vem traçando uma trajetória de crescimento”, explica a coordenadora do IBGE.
Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que, na última semana, mostrou que o Brasil gerou 324.112 empregos com carteira assinada em novembro. Ao todo, segundo a pasta, o país registrou em novembro 1.772.766 de contratações e 1.448.654 de demissões. O resultado mostra piora na comparação com o mesmo mês do ano passado, quando foram abertas 376.265 vagas formais. Contudo, foi o melhor resultado mensal desde agosto deste ano, quando foram criados 275.284 empregos com carteira assinada.
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Setor privado
Quanto às projeções do desemprego para 2022, Carlos Alberto Ramos, professor do departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), avalia que a taxa acompanha o crescimento econômico no Brasil, que pode ser relativamente baixo no próximo ano. “Existe a influência de fatores conjunturais, sendo que a pandemia reduz o ritmo de crescimento”, diz. O especialista ainda observa que o setor de serviço e de turismo tem chances de se desenvolverem mais. “Mas isso depende do ritmo da pandemia nos próximos meses”, pondera.
Segundo o levantamento, no setor privado, o contingente de empregados sem carteira subiu 9,5% (ou 1,0 milhão de pessoas). Essa categoria, no trimestre encerrado em outubro, somava 12 milhões de trabalhadores. No mesmo período, o número de trabalhadores domésticos sem carteira cresceu 8,0%, e o de empregadores sem CNPJ, 7,4%. Com isso, a taxa de informalidade chegou a 40,7%, o que corresponde a 38,2 milhões de trabalhadores informais no país.
Com o crescimento da ocupação sendo influenciado pelo trabalho informal, o rendimento real habitual caiu 4,6% e chegou a R$ 2.449. Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, a queda foi de 11,1%. Já a massa de rendimento foi de R$ 225 bilhões e permaneceu estável frente aos dois trimestres anteriores.
“Apesar de haver um crescimento significativo da ocupação, a massa de rendimento permanece estável. Isso acontece porque o rendimento do trabalhador tem sido cada vez menor — seja porque a expansão do trabalho ocorre em ocupações de menor rendimento, seja pelo avanço da inflação nos últimos meses”, diz a coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Os trabalhadores por conta própria aumentaram em 2,6%, chegando ao contingente de 25,6 milhões. São 638 mil pessoas a mais nesta categoria. Já o aumento dos trabalhadores domésticos foi de 7,8%, também no confronto com o trimestre encerrado em julho, o que representa uma adição de 400 mil pessoas. A maior parte desse aumento também veio do trabalho informal: 308 mil trabalhadores foram contratados sem carteira de trabalho assinada.
Influência
O número de ocupados no comércio cresceu 6,4%, o que representa 1,1 milhão de pessoas a mais trabalhando no setor. Já o aumento da indústria foi de 4,6%, ou mais 535 mil pessoas. No mesmo período, mais 500 mil pessoas passaram a trabalhar no segmento de alojamento e alimentação (11,0%). Na construção, houve crescimento de 6,5% na ocupação (ou 456 mil pessoas).
“Na comparação com o trimestre anterior, dos 10 grupamentos de atividades, seis tiveram crescimento na ocupação e os demais ficaram estáveis. Quando comparamos com o mesmo trimestre do ano anterior, nove apontaram crescimento significativo. Isso indica que a conjuntura econômica do trimestre encerrado em outubro é muito diferente do mesmo período do ano passado. A recuperação já mostra um cenário muito mais favorável para a ocupação”, afirma Adriana Beringuy.
*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro
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