No país em que a inflação é capaz de deixar 75% das famílias endividadas, está cada vez mais difícil enfrentar o ano com as contas no azul. Segundo uma pesquisa divulgada pela Serasa, a média de dívidas dessas famílias é de R$ 4 mil, e as pessoas não se orgulham disso. A pesquisa revelou que 88% dos entrevistados sentem vergonha de estarem no vermelho.
Sem dúvidas, o vilão dos endividados é o cartão de crédito e os crediários. De acordo com uma pesquisa do portal de produtos financeiros Foregon, 44,3% dos entrevistados responderam estar negativados, sendo que 46,1% foram contas de cartão de crédito e crediários.
Em média, os entrevistados estão com o nome sujo há dois anos e 2 meses e possuem mais de uma dívida. A faixa etária com maior taxa de negativado é a de 35 a 44 anos, com 47,5%. Jovens entre 18 e 24 anos são os que menos ficaram negativos: 46,8% afirmam nunca terem ficado endividados.
Além do preço alto da gasolina, do supermercado, do gás e da conta de luz, que são gastos básicos na rotina do brasileiro, há, com a chegada do fim de ano, outros gastos externos que influenciam no endividamento da população.
A Black Friday, em novembro, é um exemplo. Com a euforia por preços menores, 29% dos entrevistados de uma pesquisa divulgada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) admitem que costumam gastar mais do que podem nessa época do ano. A pesquisa também mostrou que 84% dos consumidores que utilizaram o cartão de crédito nos últimos 12 meses não estão cientes das taxas de juros.
No fim do ano, há também a pressão por fechar os 12 meses no azul, somada às viagens e às festas que são costume nessa época. Para o especialista em comportamento de compra do consumidor, Marco Quintarelli, a falta de planejamento é o principal inimigo do brasileiro em dezembro
"Com a pressão por oferecer a melhor ceia, presentear familiares e amigos e ainda guardar dinheiro para as celebrações, muitos acabam não analisando as melhores ofertas e promoções da estação. Por isso, a dica é estar atento a todos os canais de venda e estabelecer uma ordem de prioridades", aconselha.
Ele chama a atenção para as compras na internet. "Este ano, os melhores preços estão centralizados no on-line. Devido aos novos hábitos de compra que se criaram na pandemia, as lojas estão apostando em descontos no e-commerce, e essa é uma boa dica para driblar os preços altos na compra dos presentes", afirma Quintarelli.
O especialista aconselha, ainda, que o consumidor fique atento às promoções de grandes redes de supermercado para os itens de ceia. "Os preços desses produtos subiram devido às tarifas de importação e variação cambial, o importante é ficar atento a essas promoções, pois as lojas já preparam seus estoques de fim de ano há meses. Assim, é possível garantir itens importados como azeites, vinhos e espumantes por preços mais baixos", acrescentou.
Para ele, a palavra-chave é criatividade. "Esse é o momento perfeito para fazer trocas inteligentes e saborosas, afinal, as aves ainda estão com preço melhor do que as carnes de uma maneira geral, e os suínos também. Uma boa saída é preparar uma ceia mais brasileira, com proteínas e diversidades de pratos, além de optar por frutas nacionais".
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Empréstimos
Na visão dos aposentados, mesmo com as correções dos benefícios, é difícil manter as contas no azul. Aposentado pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), Kleber Carvalho explicou que não consegue manter seu custo de vida. "Quando estamos em nossas atividades profissionais, temos diversos benefícios além do salário, como ticket alimentação, plano de saúde subsidiado. Quando você se aposenta, você perde isso e tem que manter o padrão de vida com o dinheiro do seu bolso", disse.
"Para isso, você começa a recorrer a empréstimos. É muito comum que a gente utilize cheque especial e cartão de crédito, mas nos esquecemos dos juros, que são elevadíssimos. Você só paga à vista quando está bem financeiramente; do contrário, é mais fácil gerar parcelas, fica mais acessível", salientou.
As aposentadorias e pensões pagas pelo INSS deverão receber uma correção próxima de 10% em janeiro. A estimativa leva em conta a previsão de aumento do Índice de Preços ao Consumidor (INPC) neste ano. Kleber afirmou que, com o aumento, pretende recuperar seu poder de compra.
"Durante a pandemia, houve reajustes em tudo: no combustível, nos produtos de supermercado, no IPTU, no IPVA. É complicado você manter um salário congelado por um ano com uma inflação que muda constantemente", lamentou.
O mesmo acontece com o aposentado Luiz Henrique da Silva, 57 anos, que contou que o principal vilão das dívidas é o cartão de crédito e a falta reajuste que não acompanha a inflação. Ele também vai utilizar o 13º para pagar dívidas.
Décimo terceiro
Comumente utilizado para economizar ou apenas para pagar dívidas acumuladas, o 13º foi alvo, este ano, de pesquisa realizada pela Onze, fintech de saúde financeira e previdência privada. Segundo o levantamento, 52% dos brasileiros que receberão o benefício pretendem utilizar a quantia extra para quitar dívidas. As principais despesas a serem pagas são cartão de crédito (57%), empréstimo pessoal/consignado (28%) e contas de casa (23%), como luz, água e telefone. Entre os endividados perguntados, 56% estão negativados.
De acordo com a pesquisa, 46% das pessoas apontaram que a inflação foi o principal motivo do endividamento.
"Esse fato reflete diretamente o aumento dos preços da luz, gasolina, supermercado e aluguel. O desemprego foi o segundo principal motivo, com 26%, seguido dos gastos emergenciais com saúde (23%) — um número relevante se levarmos em conta o ano de pandemia", afirmou o analista de investimento da Onze, Samuel Torres.
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