Governo

Guedes alerta que reajustes de servidores pode causar efeito inflacionário

Após pedir ao Congresso R$ 2,8 bilhões no orçamento do próximo ano para reestruturar carreiras de policiais federais, ministro diz temer efeito inflacionário de reajustes em cascata de outras categorias do funcionalismo

Rosana Hessel
postado em 18/12/2021 06:00
 (crédito: Edu Andrade/Ascom/ME)
(crédito: Edu Andrade/Ascom/ME)

Apesar de ter encaminhado ao Congresso, na quinta-feira, o pedido de reserva de R$ 2,8 bilhões no Orçamento de 2022 para reajuste e reformulação da carreira de policiais, o ministro da Economia, Paulo Guedes, negou que tenha concordado com a medida. E afirmou que alertou integrantes do governo sobre os riscos inflacionários da decisão.

"Foi a Junta Orçamentária. O pedido veio da classe política, eu estou na outra ponta", afirmou o ministro, ontem, a jornalistas. Ele contou que foi voto vencido, e alertou para os riscos inflacionários de reivindicações em cascata de outras categorias do funcionalismo e de uma onda de aumentos salariais nos governos estaduais em ano eleitoral. Contudo, ele admitiu que o presidente quer privilegiar a categoria que sempre o apoiou.

"Eu disse: vamos segurar o negócio porque a inflação vai descer no ano que vem e vai ser melhor para todo mundo", contou ele, em referência à reunião que teve com Bolsonaro e o ministro da Justiça, Anderson Torres.

De acordo com Guedes, a melhora nas contas públicas dos estados é decorrente, em grande parte, do congelamento dos salários nesses dois anos. Um reajuste do funcionalismo agora, acrescentou, é "uma ameaça para o futuro". Ele disse que, se a inflação continuar subindo, o Auxílio Brasil, de R$ 400 não vai ser suficiente para cobrir as despesas básicas do cidadão e vai ter que subir para R$ 600 ou para R$ 800.

O ministro aproveitou para criticar governadores que já estão prometendo reajustes com objetivos eleitoreiros, colocando o país em uma "espiral inflacionária do passado". "Tem estado querendo entrar no Regime de Recuperação Fiscal e quer dar reajuste", denunciou.

"Se sair uma onda generalizada de reposição de salários, quando a economia acaba de se levantar (da crise provocada pela pandemia) e a inflação está subindo, vamos romper o compromisso com as gerações futuras", afirmou Guedes. "Quem pede aumento de salários está dizendo: já tomei a vacina e quero meu dinheiro de volta. Quero renegar o meu sacrifício. Se fizermos isso, vamos rolar para a frente esse endividamento, para nossos filhos e netos", emendou.

Na avaliação do ministro, o país está indo na contramão da experiência "extraordinária" durante a pandemia, quando o aumento de gastos para conter os efeitos da covid-19 tiveram como contrapartida o congelamento de salários nos governos federal e regionais, em uma espécie de pacto federativo. Ele frisou que o deficit primário do governo, depois de ter chegado a 10,5% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2020, deverá cair, neste ano, para 1% do PIB e, em 2022, para 0,4% do PIB, um "ajuste fiscal que não foi feito em nenhum país do mundo". "Comprovamos que nenhuma crise fiscal dura um ano e meio. Tivemos coragem de fazer direito em tempo de guerra e, agora, vamos jogar a experiência fora para voltar ao passado desastroso", alertou.

Na avaliação do ministro, apesar da alta dos juros promovida pelo Banco Central para controlar a inflação, o crescimento em 2022 virá dos investimentos privados uma vez que, com as concessões na área de infraestrutura, há mais de R$ 800 bilhões de investimentos comprometidos para os próximos anos e, no ano que vem, o governo espera mais de R$ 400 bilhões em novos leilões. "Com isso, teremos R$ 1,2 trilhão de investimentos e vamos conseguir fazer a taxa de investimento voltar a ficar acima de 20% do PIB", disse.

Privatizações

Guedes ainda afirmou que considera "inadmissível" o governo não conseguir privatizar, pelo menos, uma empresa, por conta de resistências de outros Poderes.

"É inadmissível que não se consiga vender. Senão fica parecendo que é operação tartaruga, para descumprir a vontade popular", afirmou, tentando justificar a falta de cumprimento da promessa de arrecadar R$ 1 trilhão com a venda de estatais federais. "O presidente se comprometeu com o programa de privatização. Na hora que vai privatizar, outros Poderes impedem", reclamou.

Guedes voltou a prometer que pretende privatizar os Correios e a Eletrobras no ano que vem. "É perfeitamente natural que consigamos vender duas empresas que estão descapitalizadas e vão ser condenadas à irrelevância se continuarem (sendo estatais)", disse.

O ministro reforçou o discurso de que a Eletrobras precisa investir R$ 15 bilhões "para manter a fatia de mercado", mas só consegue investir R$ 3,5 bilhões. Apesar de o processo da estatal de energia ter tido vários adiamentos no Tribunal de Contas da União (TCU), ele disse que a privatização da companhia está "mais encaminhada" do que a dos Correios, cujo projeto de lei está parado no Senado. "Os Correios podem se tornar algo parecido com a DHL (gigante alemã de logística) quando foi privatizada. Mas ela (a estatal brasileira) precisa ser libertada das más administrações do passado", afirmou.

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