A inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), perdeu um pouco da força entre outubro e novembro: o indicador recuou de 1,25% para 0,95%, conforme dados do Instituto Brasileiro Geografia e Estatística (IBGE), ficando abaixo das estimativas do mercado, que esperava alta em torno de 1% e 1,10%. Apesar disso, foi a maior alta para o mês desde 2015.
Além disso, a taxa acumulada em 12 meses subiu, alcançando 10,74%, ante 10,67% registrados em outubro, na maior variação para o período desde 2003. O percentual acumulado é o dobro da meta de inflação deste ano, de 5,25%. Conforme os dados do IBGE, sete dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados registraram alta de preços, confirmando que a elevação do custo de vida está disseminado na economia.
O grupo de Transportes subiu 3,35% e foi o segmento que mais pesou no indicador de novembro. O principal vilão foi a gasolina, cujos preços saltaram 7,38%. No acumulado em 12 meses, o combustível registra alta de 50,78%. Enquanto isso, o etanol disparou 69,40%, no mesmo intervalo, e o óleo diesel, 49,56%.
Analistas avaliam que a carestia continuará forte e resistente. Eles lembram que os preços elevados dos combustíveis e da energia encarecem os fretes e os custos de produção, que devem ser repassados ao consumidor de alguma forma ao longo do próximo ano. Apesar da desaceleração vista em novembro, eles reforçaram a tese de que o Banco Central vai manter o ritmo de alta dos juros, aumentando a taxa básica da economia em mais 1,50 ponto percentual, em fevereiro, como foi sinalizado no comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) da última quarta-feira, quando a taxa básica passou de 7,75% para 9,25% ao ano.
Há um consenso em formação de que a taxa básica deve chegar a, pelo menos, 11,75%, no início de 2022, de acordo com Fábio Romão, economista sênior da LCA Consultores. Segundo ele, a inflação continuará em dois dígitos, pelo menos, até abril, por conta da bandeira tarifária da energia elétrica, que está no patamar mais elevado e só deverá ser revista a partir de maio.
Para o analista, um dos motivos da desaceleração do IPCA, além dos descontos da Black Friday, é o começo do impacto do ciclo de alta da Selic, iniciado em março. "Há uma defasagem de seis a nove meses dos reflexos do aperto monetário na atividade. Mas uma inflação de 10,74% é elevada. Ela corrói o poder de compra das famílias e afeta o consumo", destacou.
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Indexação
Romão lembrou que, como a economia está muito indexada, a inércia não deixará o IPCA ficar abaixo da meta em 2022, que é de 5%. Pelas estimativas da LCA, mesmo se a Selic chegar a 11,75% ao ano, em março, e se mantiver nesse patamar até dezembro, a inflação deverá encerrar 2022 com alta de 5,5%.
O economista André Braz, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), também prevê que o IPCA encerrará 2022 acima da meta, com alta de 5,2%. "A inflação continuará bastante disseminada na economia. O índice de difusão, apesar da queda em novembro, ainda é elevado, de 63%, e tem uma tendência de alta pela média móvel em três meses. E os núcleos de inflação também continuam acelerando, porque os reajustes estão ocorrendo mais rapidamente em diversos setores, porque a economia é muito indexada", explicou Braz. Ele também lembrou que, no início de 2022, vários reajustes estão sendo esperados, como as mensalidades escolares e as tarifas de ônibus urbanos. "Vai ser difícil para a inflação desacelerar para dentro da meta. O único alento é que o volume de chuvas parece animador, e o preço da energia poderá cair a partir de maio, quando deve haver mudança na bandeira tarifária", afirmou.
De acordo com Braz, outro alento para o custo de vida é que a nova variante da covid-19, a ômicron, deve ajudar a desacelerat o IPCA de dezembro para 0,65%. "O petróleo já está caindo no mercado externo com a redução da circulação das pessoas na Europa, e isso poderá ajudar a evitar um novo reajuste da gasolina neste mês", afirmou.
Na contramão, os grupos de Alimentação e bebidas e de Saúde e cuidados pessoais registraram deflação de 0,04% e 0,57%, respectivamente. Um dos itens com destaque entre as quedas foi a carne, com deflação de 1,38%, em grande parte, devido ao embargo chinês que aumentou a oferta do produto no mercado interno, lembrou Romão. As passagens aéreas, com queda de 6,12%, após alta de 33,86% em outubro, não devem subir muito em dezembro, pelas estimativas do economista, porque a demanda ainda não está tão aquecida.
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