A disparada de preços de fontes de energia pressiona ainda mais a inflação para o setor do comércio. Em participação no seminário Desafios 2022: Para onde vai o Brasil, promovido pelo Correio Braziliense, o economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes, destacou o peso da crise energética no faturamento dos comerciantes do país.
“Metade da nossa inflação é de energia, seja energia elétrica ou combustíveis. Não fosse a disparada desses dois itens nos índices de inflação, seguramente a economia estaria passando por um momento melhor”, afirma o economista.
Segundo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro, considerando a inflação oficial do país, no acumulado de 12 meses, a gasolina teve alta de 42,7%, enquanto o etanol já acumula 67,41%. Já a alta acumulada da energia elétrica alcançou 24,97% em 2021 e 30,02% nos 12 meses encerrados em outubro.
Com a alta da inflação nas fontes de energia, os custos para comerciantes aumentam, o que piora uma situação que já não era positiva para o setor. “Sem dúvida alguma a gente vive um momento de discrepância de custos no comércio. Segundo dados do IBGE, a inflação no atacado tem se dado em um ritmo muito mais intenso que a inflação ao consumidor. Para o varejista, a inflação já passa de 26% nesse momento.”, diz Bentes.
O economista explica que apesar do faturamento do setor estar voltando ao normal, os custos para comerciantes se manterem aumentaram consideravelmente. “Setores de comércio e serviço vem retomando faturamentos no nível pré-pandemia, mas e os custos? Em uma lavanderia, 23% dos custos vêm de energia elétrica, em um hotel 20%, supermercado 19%".
Esse cenário coloca o varejo em uma situação complicada, em um período que é muito importante para o setor, o final do ano. Com vendas abaixo da expectativa neste ciclo e a inflação perdurando, as expectativas para crescimento do setor em 2022 são ainda mais baixas do que neste ano. “No caso do comércio, a gente observa um cenário de preocupação. Neste ano o setor deve crescer em torno de 3%. Para o ano que vem, já há uma certa incerteza na capacidade de crescimento, o comércio dificilmente vai conseguir alcançar um crescimento maior que 1%.”
Estudo feito pela CNC mostra que a piora na inflação, juros e renda deve retirar R$ 44,7 bilhões das vendas no fim de ano em relação ao cenário mais favorável projetado no começo do ano.
Apenas em outubro, o IPCA, medido pelo IBGE, subiu 1,25%, o maior índice para esse mês desde 2002.O acumulado dos últimos 12 meses do IPCA mais recente, já coloca a inflação em 10,67%. Para tentar resolver as altas constantes, o Banco Central elevou novamente a taxa de juros básica da economia brasileira, a Selic, nesta quarta-feira (8/12), subindo de 7,75% para 9,25%.
O economista sênior da CNC avalia que a alta de juros não deve solucionar a inflação alta: “Elevar os juros provavelmente não vai resolver a questão da inflação. Em algum momento ela vai baixar, essa inflação de dois dígitos não deve perdurar, até porque a capacidade técnica do Banco Central é inquestionável. Mas pode ser que nós paguemos o preço, pela demora para trazer a inflação para baixo novamente."
*Estagiário sob supervisão de Pedro Grigori
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