A maneira de empreender mudou com a pandemia, especialmente quando o assunto é a digitalização das empresas. Trata-se da nova realidade enfrentada por quem tem o próprio negócio, acentuada pelo contexto do isolamento social. Cerca de 87,5% das organizações sediadas no Brasil realizaram, pelo menos, uma iniciativa com foco na transformação digital em 2020. O dado é do Índice de Transformação Digital da Dell Technologies 2020.
Com objetivo de auxiliar empresários do Distrito Federal a se adaptarem rapidamente ao mundo digital e ao contexto pandêmico, o Sebrae-DF orientou a busca por presença digital. Ao longo dos últimos anos, o Sebrae mostrou aos empreendedores a necessidade de estar ativo, tanto na web quanto nas redes sociais. "A intenção é buscar os empreendedores que têm dificuldade. Tem muita gente que trava com esse novo mundo. Se você não se inserir nesse mundo, terá uma dificuldade enorme em continuar no mercado", explicou o superintendente Valdir Oliveira.
A fim de ajudar o empreendedor a crescer nessa realidade complexa e transformadora, o Sebrae reuniu, de 23 a 25 novembro, especialistas nacionais e internacionais para explicar as tendências desse mundo novo e desafiador. Ontem, novas reflexões puderam vir à tona, com a realização do Correio Talks Live — Sebrae Inova Digital 2021.
Participaram desta edição do Correio Talks o editor de Política e Economia do Correio Braziliense, Carlos Alexandre de Souza; o superintendente do Sebrae-DF, Valdir Oliveira; Iuri Costa, consultor em inovação e gamificação do Sebrae-DF; e Maria Emília Walter, decana de Pesquisa e Inovação da Universidade de Brasília. O Correio Talks teve, ainda, a participação de internautas, que puderam enviar perguntas aos convidados.
Com características importantes para a inovação, Brasília reúne condições de transformar em um polo tecnológico relevante. Maria Emília Walter destacou que o Distrito Federal possui um ecossistema digital completo, com importantes iniciativas como parques tecnológicos, centros de pesquisa, centenas de empresas e um poder público em condições de fomentar esse ambiente. Mas ela defende uma articulação melhor desses entes.
Brasília tem, segundo a decana, uma oportunidade ímpar, de colaboração em nível internacional. "A gente precisa de uma articulação dos entes responsáveis por ciência tecnologia e inovação no DF. Uma das minhas sugestões é realmente implementar o Inova Brasília, que também precisa ser atualizado, porque mudou muito de quatro anos para cá", comentou a decana.
"Poderíamos ter eventos de estruturação desse sistema com o Sebrae, por exemplo, ou a Fibra e UnB também. Refiro-me a eventos com empresas públicas, privadas, academias e investidores. Quando você começa a trabalhar, percebe como as políticas são importantes. O que seriam essas políticas? Por exemplo, dar isenção fiscal para empreendedores que criam pesquisas de desenvolvimento em suas empresas", acrescentou.
Maria Emília Walter observou que existem dificuldades para implementar políticas consistentes de incentivo à inovação. A depender do momento, lembrou, um governo cria a Secretaria de Ciência Tecnologia e Inovação; o outro governo tira; o próximo implementa de novo. "Tudo isso desestrutura muito o ecossistema de inovação no DF", queixou-se.
Em termos de ciência e tecnologia, Maria Emília explicou que as universidades do DF, em geral, oferecem uma boa formação na graduação, temos bons cursos em Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) e também temos projetos de P&D. "Se instituições como Fiocruz e Butantan tivessem tido apoio, tenho absoluta certeza que já teríamos a vacina brasileira. Não estaríamos pagando em dólar, mas sim em reais", declarou.
Em 2021, o Brasil ficou em 57º lugar entre 132 países no Índice Global de Inovação (IGI), ranking divulgado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual. Em comparação com 2020, o país subiu cinco posições, mas o desempenho ainda é considerado ruim, levando em conta que está 10 colocações abaixo da obtida em 2011, quando chegou à sua melhor marca, a 47ª posição.
As principais fragilidades do país, apontadas no ranking, são Formação bruta de capital, Facilidade para abrir uma empresa, Facilidade para obtenção de crédito e Taxa tarifária aplicada. No cenário nacional, o Índice de Inovação dos Estados, do Observatório da Indústria, da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), com apoio da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), coloca Distrito Federal como sétimo colocado no ranking entre as unidades federativas do país.
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Brasília favorece avanço da digitalização
Em Brasília, existem características únicas que colaboram para a inovação. Há um mercado consumidor altamente qualificado, empresas, uma renda peculiar acima da média brasileira. Segundo o consultor de Inovação e Gamificação, Iuri Costa, Brasília tem muita gente criativa, tanto nas artes quanto na música. "Hoje eu participo de um grupo que tem mais de 60 empresas de educação e tecnologia. É um lugar que, muitas vezes, a gente nem imagina que tem isso", contou.
Para ele, a cidade de modo geral possui estabilidade financeira por conta do serviço público, mas é necessário gerar mais criatividade. "A gente acha que isso e alegria é só na Copa do Mundo e carnaval, e eu acho que nós somos mais que isso. Precisamos estar em unidade com um propósito específico", disse.
Na visão da decana Maria Emília Walter, é preciso ter colaboração entre os setores da sociedade, para que exista um mercado de tecnologia e inovação saudável e operante em Brasília. Ela destacou a importância de incentivos das autoridades, por meio de políticas públicas efetivas: "O governo precisa amparar, tanto os empresários, quanto às universidades. Por exemplo, disponibilizando bolsas, como faz o CNPq, que forma pessoas em nível de graduação ao mesmo tempo em que beneficia uma empresa."
Segundo a decana, existe uma falsa impressão de que inovação está relacionada apenas a cursos de tecnologia: "As pessoas têm impressão de que inovação está mais vinculada às engenharias, computação, ciência de dados, etc. Mas a inovação não é tecnologia, é uma mudança de processos, que pode vir pela tecnologia ou não."
De acordo com dados do Sinfor/DF, os principais segmentos de inovação na capital são, em primeiro lugar, educação e tecnologia (Edtechs), com 43,6% dos investimentos; em segundo, agrotecnologia (Agrotechs), com 4,9%. O setor financeiro e tecnologia (Fintechs) e os e-commerces vêm em terceiro, recebendo ambos 4,3%.
No DF, há 246 startups. Mas, em relação ao número de startups per capita, o maior salto ocorreu de 2020 para 2021, em que o Distrito Federal saiu da 11ª posição para a 7ª posição. Além disso, existem na região 42 espaços para coworking, uma aceleradora e seis incubadoras.
O DF é a primeira unidade federativa em qualidade da infraestrutura para inovação e a segunda unidade em densidade de startups no Brasil. Somente na cadeia produtiva da Indústria da Informação, o DF tem aproximadamente 3.700 empresas, das quais estima-se que cerca de 200 operem em residências.
No setor de tecnologia, durante a pandemia, foram abertas no Distrito Federal 2 mil empresas de informática, totalizando 11.341 negócios, sendo que 50% deles são de empresários individuais, segundo Sindicato das Empresas de Serviços de Informática do Distrito Federal (Sindesei-DF). O setor emprega 29 mil pessoas, de acordo com os dados divulgados em fevereiro de 2021.
*Estagiários sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza