Com inflação e taxa de juros crescendo, o percentual de famílias brasileiras com dívidas ou contas em atraso foi de cerca de 26,1% em novembro deste ano, de acordo com dados divulgados pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) nesta segunda-feira (29/11).
Esta é a maior proporção de inadimplência registrada em meses de novembro, desde o início da série histórica, em janeiro de 2010.
A Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) também mostra aumento no percentual de famílias endividadas, alcançando 75,6% dos lares no país. Um ponto percentual a mais que em outubro, e 9,6 pontos acima do visto em novembro de 2020.
Desde julho deste ano, o percentual de endividados no país, que está há 11 meses em alta, supera os 70%. Antes disso, a marca dos 70% nunca tinha sido ultrapassada.
Além disso, a Peic também mostra que 10,1% dos brasileiros não terão condições de pagar suas dívidas ou contas. O percentual é o mesmo de outubro, mas abaixo dos 11,5% de novembro do ano passado.
Economista da CNC, Isis Ferreira revela os motivos dessa elevação das dívidas dos brasileiros. “O dinheiro está acabando antes do mês acabar, aí as famílias estão apelando principalmente para o cartão de crédito”, pontua. Ela explica que, na prática, o cartão é a modalidade mais cara para o consumidor, “principalmente quando ele se torna crédito rotativo, o que acontece quando o consumidor não consegue pagar a totalidade da fatura e uma parte daquela dívida sobra para o mês seguinte”.
Reflexo da escalada da taxa Selic para conter a inflação, os juros cobrados de consumidores seguem em elevação. A taxa de juros rotativo do cartão de crédito para pessoas físicas bateu em 343,6% ao ano em outubro. Este é o maior patamar registrado desde setembro de 2017.
“Então a inflação, que é o mesmo problema que gera o aumento dos juros, também tem levado ao maior endividamento, principalmente das famílias de renda média e baixa no Brasil”, afirma a economista.
Recorte de renda
Em novembro, o percentual de endividamento das famílias com renda de até 10 salários mínimos saltou para 77% do total de famílias, ante 75,9%. No mesmo mês de 2020, 67,9% das famílias nessa faixa de renda estavam endividadas, incremento de quase 10 pontos percentuais.
Enquanto isso, entre as famílias com renda acima de 10 salários mínimos, a proporção de endividados também alcançou o maior patamar, indo de 69,5% para 70,3% em novembro. No mesmo mês de 2020, a taxa era de 59,3%, ou seja, uma alta de 11 pontos percentuais.
Isis Ferreira diz que os dois grupos de renda registraram aumento por necessidades diferentes. "A inflação pesa mais no orçamento das famílias mais pobres porque são aquelas que têm as principais classes de despesa concentradas em alimentos, tarifas de energia e transportes. Naturalmente, as famílias com renda de até 10 salários mínimos estão recorrendo ao crédito para conseguir pagar tudo”, afirma.
Já as famílias mais ricas têm se endividado principalmente com o setor de serviços, segundo a economista. “Com a maior resiliência e flexibilização da pandemia, essas pessoas estão, ao pouco, retomando o consumo de serviços, principalmente com serviços ligados às famílias e turismo. Então, essas famílias estão voltando a consumir esses itens e pagando com cartão de crédito”, pontua.
Com o Natal se aproximando, o cenário é preocupante para o setor de comércio, que deve se deparar com consumidores mais conservadores em relação aos gastos. A economista da CNC diz que o varejo espera um modesto aumento nas vendas, em relação ao ano passado. “Estamos esperando um aumento no volume de vendas do varejo. Porém será um aumento muito pequeno, em razão dessas condições conjunturais que estão fazendo com que os consumidores precisem ter esse ponto de atenção. Eles estão endividados e a inflação corrói seu poder de compra”, ressalta Isis.
*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro