Grande parte dos índices que medem a confiança no país está em queda, após um período de forte recuperação do momento crítico da pandemia do covid-19. Mesmo com a ligeira recuperação em outubro, os indicadores voltaram a cair em novembro, sinalizando uma situação de incerteza crescente. Parte disso vem com a nova variante do covid- 19, que fez o mercado desabar na sexta-feira.
A ômicron, como foi batizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ligou o alerta de especialistas. E o quadro, que já era dramático para o Brasil, com perspectiva de queda de até 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022, ficou ainda pior.
Assim, não há como se falar em investimentos e crescimento robusto da economia. Com a crise econômica, a população, de uma forma geral, parou de comprar o que não era necessário. Não por acaso, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) do FGV IBRE caiu 1,4 ponto em novembro, para 74,9. Segundo a entidade, é o menor valor desde abril (72,5 pontos).
Em médias móveis trimestrais, o índice se manteve em queda pelo terceiro mês consecutivo. A FGV ressalta que, em novembro, o indicador de confiança foi influenciado pela piora tanto na avaliação da situação corrente quanto das expectativas. O Índice de Situação Atual (ISA) diminuiu 2,1 pontos, para 66,9, enquanto o Índice de Expectativas (IE) caiu 1,0 ponto, para 81,4.
O planejador financeiro Marco Harbich, consultor de valores mobiliários e sócio da Vante Financial Group, diz que, mesmo famílias que conseguirem um aumento de renda no curto prazo, buscarão quitar as dívidas antes de voltar para o consumo. "Há um conjunto de incertezas que compromete a expectativa de crescimento do PIB em 2022. Ainda não vejo o momento como estagflação (conjugação de inflação alta e baixo crescimento), mas há possibilidade disso ocorrer, se a economia se mantiver desta forma", observa Harbich.
No início de novembro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), mostrou que o volume de vendas do comércio varejista no país recuou 1,3% em setembro, na comparação com o mês anterior, segunda queda consecutiva após a maior alta do ano, em julho, quando cresceu 3,1%. No ano, de acordo com dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), o varejo acumula crescimento de 3,8% e, nos últimos 12 meses, de 3,9%.
Segundo o economista autônomo Hugo Passos, os resultados negativos vêm em um contexto de escalada da inflação, que eleva os custos de operação das empresas e diminui o poder de compra da população.
Para Passos, o índice que mostra as expectativas para os próximos meses no setor não são boas. "No entanto, vale lembrar que, segundo os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), o Brasil gerou mais de 2 milhões de vagas com carteira assinada comparado ao ano passado. Isso possibilitou incremento de renda nas famílias, o que deve impulsionar as vendas do comércio com o combustível do 13º salário, mesmo com o aumento das despesas domésticas", comenta Passos.
Indústria
O quadro não é diferente nas fábricas. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) de novembro, divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), ficou em 56 pontos, uma queda de 1,8 ponto em relação ao mês anterior.
O indicador caiu nos últimos três meses, o que indica confiança mais fraca e menos disseminada. Ao recuar 1,1% no trimestre encerrado em setembro, o setor industrial interrompeu o comportamento positivo que vinha sendo registrado desde os últimos três meses do ano passado, em 3,4%. De acordo com a economista Catharina Sacerdote, consultora especialista em investimentos, essa mudança é explicada pela diminuição no ritmo das quatro grandes categorias econômicas.
O péssimo momento da indústria é endossado pela Fundação Getulio Vargas (FGV). O Índice de Confiança da Indústria (ICI), calculado pela instituição, apresentou recuo de 3,1 pontos em novembro e foi a 102,1 pontos, menor nível desde agosto de 2020 (98,7 pontos). Esse comportamento se reflete no número de vagas ocupadas nas fábricas.
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o emprego da indústria de transformação, que vinha crescendo a taxas elevadas em 2021, desacelerou. O faturamento da indústria, por sua vez, caiu 1,5%; a Utilização da Capacidade Instalada (UCI) recuou pela terceira vez seguida e o rendimento médio real segue tendência de retração.
Para Catharina Sacerdote, o Brasil vive grandes desafios. "Enquanto uma desaceleração da China deixa o país muito vulnerável do ponto de vista de balança comercial, há outras reformas importantes internas que foram completamente paralisadas desde o início da pandemia. Junta-se a isso a escassez de insumos generalizada, que impacta diretamente a indústria e mantém os níveis de desemprego altíssimos", comentou.
Já o Índice de Confiança da Construção (ICST), da Fundação Getulio Vargas, caiu 0,8 ponto de outubro para novembro e chegou a 95,3 pontos, em uma escala de zero a 200 pontos. Essa foi a segunda queda consecutiva do indicador. O tombo da confiança do empresário da construção no mês foi puxada, principalmente, pela piora das avaliações sobre o futuro.