A queda de 0,14% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) no terceiro trimestre, divulgada na semana passada, acendeu o sinal de alerta para o risco de recessão ainda em 2021. Como o PIB ficou negativo em 0,1% nos três meses anteriores, o país entrará em recessão técnica — que ocorre quando há queda consecutiva em dois trimestres — na contramão do otimismo da equipe econômica.
Devido à deterioração da política fiscal e das perspectivas para a economia brasileira, grandes instituições financeiras, como o Itaú Unibanco, preveem queda de 0,5% no PIB de 2022, enquanto as estimativas de crescimento da economia global, pelas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), é de expansão de 4,7%.
Em 2020, quando o PIB brasileiro encolheu 4,1%, a taxa média de queda do PIB mundial foi de 3,5%. E o Brasil continua tendo desempenho pior do que a média global, apesar de o ministro da Economia, Paulo Guedes, dizer o contrário. A previsão da equipe econômica para o crescimento do PIB deste ano, de 5,2%, está abaixo da média de avanço global, de 5,7%, conforme as projeções do FMI.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, reforça que a instabilidade do mercado financeiro é resultado da perda de confiança no governo e da falta de avanços na agenda econômica. "Não tivemos as reformas tributária e administrativa e, agora, surge a discussão de reajuste para servidores. A defesa da responsabilidade fiscal fica cada vez mais distante. Se o Executivo não sinalizar algo nessa direção, não será o Congresso. Em um ano eleitoral, o que não vai faltar é pedido por recursos para bases", lamenta.
"A credibilidade do governo foi sendo perdida ao longo do mandato, e o que se viu foi a concentração de poder no Congresso e um Executivo com dificuldade de propor políticas econômicas que fizessem sentido", avalia Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. Ele ressalta que esses problemas ficaram mais evidentes neste ano. "O pior é a percepção escancarada de uso da política fiscal com objetivos eleitoreiros, de forma tão explícita, a ponto de quebrar a regra do teto de gastos, que o próprio ministro dizia ser intocável", afirma. Ele prevê crescimento zero do PIB de 2022, e não descarta o risco de uma recessão no próximo ano.
Para os analistas, a agenda liberal prometida por Guedes e Bolsonaro durante a campanha nem saiu do papel. "Bolsonaro nunca foi liberal. Ele é, na essência, um sindicalista. Não há nenhuma surpresa", resume o economista Samuel Pessoa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). Para ele, o governo perdeu a condição de tocar políticas econômicas com efeito de longo prazo, e isso está se refletindo no mercado.
Na avaliação de Pessoa, um ponto positivo foi o avanço das concessões em infraestrutura, uma agenda iniciada no governo Dilma Rousseff (PT) e que ganhou corpo no governo Michel Temer (MDB). "A continuidade dessa agenda merece ser aplaudida. Mas, de resto, não teve quase nada. A reforma da Previdência só avançou graças ao Rodrigo Maia (ex-presidente da Câmara), que usou todo o capital político que tinha para aprovar", afirma.