Apesar de o índice de Gini, usado para medir a desigualdade social, ter caído em 2020, a parcela de 1% da população que tem os rendimentos mensais mais elevados recebe, em média, 34,9 vezes mais do que a metade mais pobre da população. Os dados, divulgados ontem, fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com o levantamento, a renda mensal dos que fazem parte do 1% mais rico da população é, em média, R$ 15.816. Já o rendimento mensal dos 50% mais pobres é de R$ 453, ou seja, cerca de 35 vezes menor. Em 2019, a diferença entre as rendas era ainda maior, de 40 vezes, a mais alta da série estatística.
A ligeira queda na concentração de renda se deveu, principalmente, à distribuição do Auxílio Emergencial durante a pandemia da covid-19. "Entre 2019 e 2020, a desigualdade medida pelo Índice de Gini se reduziu em todas as regiões, sobretudo no Norte e no Nordeste, regiões com maior proporção de domicílios recebendo Auxílio Emergencial", indicou o IBGE.
De 2019 para 2020, o índice passou de 0,544 para 0,524. Essa foi a maior queda da série histórica do indicador. O indicador, adotado como critério internacional, mede a concentração de renda e o nível de desigualdade entre membros da sociedade. Quanto mais próximo de zero é o índice, menos desigual é o país.
"Houve uma piora do mercado de trabalho. Muita gente perdeu a ocupação, mas o Auxílio Emergencial segurou quem tinha rendas domiciliares menores. Isso tornou a distribuição de renda do país menos desigual", destacou Alessandra Scalioni, analista da pesquisa.
O diretor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Social, Marcelo Neri avalia que o auxílio emergencial pode ter sido generoso, proporcionando uma "melhora fugaz" nos indicativos sociais, mas não foi implantado de forma sábia: "Acho que esse é um efeito limitado. Não investimos em um aprendizado ou projeto para saber o que fazer agora nesse processo de saída do auxílio emergencial".
Para o economista, a parcela da população que vinha recebendo o benefício deve sofrer para pagar as contas nos próximos meses. "Os 29 milhões que contavam com o auxílio deixarão agora de recebê-lo. Acho que vamos ter fortes efeitos adversos, não só na desigualdade mas na pobreza brasileira", explicou.
"Agora, será difícil sair dessa situação de auxílio. No primeiro semestre de 2021 quando o auxílio acabou, a pobreza triplicou e agora estamos vivendo um momento parecido." O levantamento ao qual Marcelo Neri se refere, publicado em abril deste ano pela FGV, constatou que, em meio à pandemia do coronavírus, o número de cidadãos que vivem abaixo da linha da pobreza triplicou, atingindo 27 milhões de pessoas, 12,8% da população brasileira.
Comparando agosto de 2020 com fevereiro de 2021, esse número triplicou. No ano passado eram 9,5 milhões de pobres. A taxa deste começo de década foi maior que a do início da anterior (12,4%), em 2011, e que a de 2019 (11%). (MEC e BL)