O recuo de 0,6% no volume de serviços prestados na passagem de agosto para setembro fez o setor interromper uma sequência de cinco meses seguidos de crescimento, segundo dados da Pesquisa Mensal de Serviços, iniciada em 2011 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "No processo de recuperação do setor de serviços, foram 14 taxas positivas e apenas duas negativas", observou Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa do IBGE.
O recuo do setor, que é responsável por cerca de 60% do Produto Interno Bruto (PIB), reforça a percepção de que a economia passou a caminhar em ritmo mais lento, como já vinha sendo mostrado por indicadores de outras áreas da economia. De acordo com o IBGE, em setembro, a produção industrial recuou 0,4%, apresentando o quarto resultado mensal negativo seguido. E o setor do varejo, conforme divulgado na última quinta-feira, teve retração de 1,3% em setembro, depois de já ter registrado um tombo de 4,3% em agosto.
Passado o choque inicial provocado pela pandemia de covid-19, o setor de serviços havia engatado um processo de retomada em junho de 2020. Desde então, houve apenas dois recuos no volume de serviços prestados: março de 2021, de -3,0%, em função do impacto da segunda onda da pandemia; e em setembro, -0,6%.
Atividades
Quatro das cinco atividades de serviços registraram perdas na passagem de agosto para setembro, segundo o IBGE. O destaque foi a queda de 1,9% nos transportes, que registraram o resultado negativo mais intenso desde abril de 2020 (-19,0%). O resultado foi puxado pela perda no transporte aéreo de passageiros, devido à base de comparação mais elevada e ao aumento de preços das passagens aéreas, mas também houve impacto negativo do transporte de cargas, explicou Rodrigo Lobo. "Principalmente rodoviário e ferroviário", frisou.
Os demais recuos ocorreram nos segmentos de outros serviços (-4,7%), informação e comunicação (-0,9%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (-1,1%). O único resultado positivo foi o dos serviços prestados às famílias (1,3%), no sexto mês seguido de crescimento, período em que acumularam alta de 52,5%.
Para analistas, a crise de confiança no governo e o avanço da inflação têm prejudicado a retomada da economia. Luciano Nakabashi, professor na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP/USP), avaliou que o confronto entre Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal, em agosto e setembro, reforçou, entre investidores um clima de incerteza que causa reflexos até hoje.
Ele lembrou que o avanço da vacinação tem sido muito positivo, pois tem feito com que setores muito atingidos na pandemia tenham uma retomada, como o turismo e os serviços prestados às famílias. Porém, em sua opinião, a perda de renda da população, em conseqüência da inflação, tem feito as pessoas reduzirem as compras. "A renda não está aumentando, então as pessoas acabam substituindo os gastos, o que chamamos de efeito substituição. A indústria perde um pouco, e cai a demanda por serviços que estavam reprimidos. Para caber no orçamento, a pessoa acaba substituindo", detalhou.