O ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a minimizar os riscos fiscais e a criticar as projeções pessimistas para a economia brasileira no ano que vem. Segundo ele, quem não enxerga a retomada em V do Produto Interno Bruto (PIB) está equivocado e maquiando os números com variáveis "fictícias".
"Há muitas críticas de não haver investimento, de crescimento baixo. Eu lembro dos economistas que falam que o V era de virtual. Eu estava vendo os sinais de vitalidade ativados", disse Guedes, ontem, em evento organizado pelo Itaú Unibanco.
O próprio ministro, entretanto, inflou as projeções de investimento no país, principalmente os quase R$ 50 bilhões previstos no leilão de concessão do 5G. "Agora, quando falam que o PIB não vai crescer, temos R$ 540 bilhões de contratos de investimentos, com mais R$ 150 bilhões com o 5G. O país está com R$ 700 bilhões de investimento contratado e vai voltar a crescer com a vacinação em massa. Está tudo voltando. Por que eu vou concluir que o país não vai crescer? Tem que usar uma variável dummy (fictícia)", acrescentou.
Contudo, ao ser questionado pelo economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, sobre a desaceleração mundial que deverá ser encabeçada pela China, o ministro reconheceu que o ano de 2022 será desafiador. "Vejo complexidade, e esse é um problema sério. A covid é um complicador adicional", disse Guedes. "A notícia ruim no ambiente internacional não vai melhorar. Vai ter inflação e desaceleração. E o V deles não é como o nosso e não pode ser engatado em uma recuperação cíclica", acrescentou.
Para o ministro, o país tem potencial de crescer de 3,5% a 4% ao ano "em velocidade de cruzeiro", se destravar a agenda de reformas e de consolidação fiscal que ele prometeu e não está conseguindo deslanchar. Ele ainda criticou quem fala que ele não tem plano, porque ter um plano centralizado é "patético". "O nosso plano é não ter um planejamento central", afirmou.
O Itaú Unibanco revisou recentemente a previsão do PIB de 2022 de alta de 0,5% para queda de 0,5%, justamente devido à deterioração do cenário fiscal após a decisão do governo de mudar a regra do teto de gastos com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios. Aprovada pela Câmara dos Deputados nesta semana, a matéria ainda precisa ser votada pelo Senado Federal em dois turnos. A PEC amplia a folga orçamentária para o governo gastar mais e, assim, custear de forma temporária o Auxílio Brasil de R$ 400 até dezembro de 2022.
Pressão política
Guedes garantiu que os recursos para o benefício são temporários e que a ideia de mexer no teto de gastos não foi dele. No entanto, admitiu que houve muita "pressão política" para aprovar o Auxílio Brasil. "A pressão política foi imensa em cima da Economia. A ala política queria R$ 600, mas o presidente falou em R$ 400 para o programa transitório", afirmou.(RH)