O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, fechou esta quinta-feira (04/11) em queda de 2,09%, e alcançou a menor pontuação de fechamento do ano, com 103.412,09 pontos. No pior momento, o índice chegou a oscilar na casa dos 102 mil pontos.
O mercado reagiu negativamente ao andamento da PEC 23/2021, que adia os pagamentos de precatórios, abrindo espaço para mais gastos no Orçamento, uma manobra entendida pelo mercado como uma desculpa para furar o teto de gastos. Apesar de ter passado em primeiro turno no plenário da Câmara nesta quinta-feira, os investidores reagiram mal às incertezas quanto à aprovação da PEC em outras instâncias.
“A vitória do governo foi por um placar apertado e demonstra que terá ainda um longo caminho até a aprovação final na Câmara (Segundo Turno) e no Senado, onde o governo está enfrentando grandes dificuldades para aprovar as pautas de seu interesse.”, explica Eliel Lins, sócio-fundador do Escritório Mundo Investimentos.
Votação apertada
Dos 312 votos favoráveis à PEC dos Precatórios, 25 vieram de partidos que fazem oposição ao governo Jair Bolsonaro. Dentre os 21 deputados do PDT, 15 foram favoráveis à PEC. No PSB, foram 10 em 31. Por isso, existe uma grande sensação de incerteza quanto à aprovação. A votação da proposta de emenda à constituição deve ser retomada na próxima terça-feira (09/11). Depois o texto segue para o Senado.
Os precatórios são títulos de dívidas que o governo tem que pagar às pessoas físicas e empresas por conta de decisões judiciais definitivas. O Orçamento de 2021 prevê o pagamento de R$ 54,7 bilhões em Precatórios, e o de 2022, sem a aprovação da PEC, de R$ 89 bilhões.
O governo alega que a aprovação da PEC vai bancar os custos do Auxílio Brasil, auxílio social de 400 reais, que substitui o Bolsa Família e vai durar até o final de 2022, ano em que o presidente Jair Bolsonaro deve tentar a reeleição.
Nem o leilão do 5G, iniciado nesta quinta, conseguiu animar a Bolsa de Valores brasileira. Eliel Lins alega que o barulho político desviou o foco do mercado de investidores: "Este ambiente de incertezas ofuscou o leilão do 5G ,que não foi suficiente para atrair o investidor na parte compradora.”, diz.
Dólar e juros em alta
O volume negociado no mercado ficou em R$ 30,7 bilhões. O Ibovespa futuro para dezembro de 2021 cai 2,97% no after market, aos 104.220 pontos.
Com incertezas fiscais, os juros futuros da parcela intermediária e longa da curva a termo fecharam o dia em alta. O DI para janeiro de 2023 subiu cinco pontos-base, a 12,09%; DI para janeiro de 2025 avançou 14 pontos-base a 12,17%; e o DI para janeiro de 2027 teve alta de 15 pontos-base, a 12,19%.
Enquanto isso, o dólar comercial fechou em alta de 0,29%, cotado a R$ 5,606. Já o dólar futuro com vencimento em dezembro de 2021 é negociado no after market em alta de 1% a R$ 5,636.
Consequências na economia
O assessor de investimentos da UPREAL Investimentos, Carlos Oliveira explica que a alta do dólar colabora para o aumento da inflação “Pressiona a inflação porque somos geradores de dólares pelas exportações. Mas também importamos e nossos produtos concorrem com o mercado mundial, então dólar alto não é bom no geral.”, diz o economista.
O FMI (Fundo Monetário Internacional) estima que a inflação brasileira feche o ano em 7,7%. Se a projeção do fundo se confirmar, o Brasil vai registrar uma inflação bem acima da apurada entre os países emergentes (5,8%) e também da média mundial (4,8%).
O sócio-fundador do Mundo Investimentos, Eliel Lins explica que o aumento da inflação ainda gera outras consequências negativas para o bolso do brasileiro médio. Entre elas, está o aumento dos juros, que prejudica índices importantes para a economia de um país. "A inflação precisa ser combatida através de aumento de juros, através de política econômica contracionista diminuindo o consumo, e por consequência afetando a geração de empregos e a retomada da economia.”.
*Estagiário sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza