O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, admitiu que a Taxa Básica de Juros (Selic) foi elevada 1,5%, de 6,25% para 7,75% ao ano, devido à alta nas projeções para a inflação em 2021 e para os próximos dois anos, e às dúvidas em relação ao futuro das medidas de ajuste fiscal. Desse modo, a Selic continuará subindo em 2022 e vai ficar em dois dígitos, informa. O impacto de todo esse aperto será sentido, principalmente, no segundo semestre do próximo ano, em meio às eleições, destaca a ata divulgada pelo Copom.
Para o economista Cesar Bergo, sócio-consultor da Corretora OpenInvest, a afirmação da autoridade monetária mostra grande correlação com o que se observa, na prática, com os pilares da economia: descontrole inflacionário, descontrole cambial e desequilíbrio fiscal. Dessa forma, para conter dos contantes desequilíbrios, afirma, o Copom elegeu a forte elevação da Selic como antídoto para as questões do descontrole monetário. “Estratégia muito arriscada”, considera.
“Juros altos podem causar enormes limitações ao crescimento do país, pois encarece financiamentos e empréstimos e provoca o descontrole das dívidas das empresas e das famílias. As empresas neste cenário de incerteza contratarão menos em 2022, fazendo com que o desemprego se mantenha em patamar muito elevado. O consumo cai porque a renda cai e também se torna inviável as famílias tomarem empréstimos”, aponta Bergo.
De acordo com ele, há, também, outro efeito nefasto: a alta significativa da Selic aumenta o endividamento do governo que se vê obrigado a pagar juros cada vez maiores. “Isso compromete o crescimento para os próximos anos”, destaca. Na avaliação de Bergo, a Selic deve encerrar esse ano em 9,5%. Para 2022, a perspectiva é de pouca melhora. “A nossa projeção para 2022 é de Selic de um dígito (7,5%), pois acreditamos no arrefecimento da inflação que deve chegar a 6% no final de 2022”, prevê.
André Pefeito, economista-chefe da Necton Investimentos, assinala que, de tudo que a ata do Copom divulgou, nada exatamente era uma novidade. “A complexidade da política monetária atual, com questões fiscais de longo prazo e inflação persistente no curto prazo, tornou essa uma das mais difíceis reuniões do colegiado do Banco Central. Contudo, o parágrafo 15 da ata deixa claro o que O BC pretende fazer”, destaca.
Na ata, cita Perfeito, o “Comitê avaliou, inclusive, cenários com ritmos de ajuste maiores do que 1,50 ponto percentual. Prevaleceu, no entanto, a visão de que trajetórias de aperto da política monetária com passos de 1,5 ponto percentual, considerando taxas terminais diferentes, são consistentes, neste momento, com a convergência da inflação para a meta em 2022, mesmo considerando a atual assimetria no balanço de riscos”. Esse trecho do documento corrobora, segundo ele, que “a questão na mesa não é a velocidade do ajuste, mas a magnitude total. Mantemos nossa projeção de Selic em 11,5% ao final do ciclo”, afirma.