Carestia

Gasolina por R$ 7,39 no DF

Nova disparada dos preços é justificada por representante do setor de revenda com a alta do ICMS ocorrida antes que o valor do tributo fosse congelado por 90 dias. Entre os consumidores, que gastam cada vez mais para abastecer, sentimento é de indignação

Quem abasteceu o carro no feriado prolongado de Finados se deparou com uma nova disparada dos preços da gasolina no Distrito Federal. Em alguns postos, o litro do produto chegou a ser vendido por R$ 7,39 — especialistas dizem que o valor ainda tende a subir mais nos próximos dias. Apesar de a Petrobras ter afirmado, por meio de nota, que não há nenhuma decisão sobre novo aumento, o próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido) antecipou que nos próximos 20 dias a Petrobras aumentará os preços dos combustíveis. Nos postos, o sentimento entre os consumidores é de indignação.

No revendedor Shell do Setor de Postos e Motéis, na Candangolândia, a gasolina era vendida ontem por R$ 7,29, com pagamento no cartão de débito. Christoph Dutra, frentista, 43 anos, informou que, há dois dias, o preço era de R$ 6,94. Ele percebeu, no instante da alteração, a insatisfação dos clientes e não soube dizer o motivo do reajuste. No posto ao lado, da rede Ipiranga, o preço estava ainda mais alto, R$ 7,39. O valor foi o mais elevado encontrado entre os postos visitados pelo Correio.

Paulo Tavares, presidente do Sindicombustíveis-DF, afirmou que, apesar de alto, o preço não é abusivo. Ele justifica o acréscimo na bomba pelo aumento da base de cálculo do ICMS — antes de os secretários estaduais de Fazenda congelarem o imposto. O recolhimento do tributo, segundo ele, aumentou R$ 0,30, no caso da gasolina, e R$ 0,40 no do etanol anidro.

“Os postos estão comprando a gasolina da distribuidora por valores entre R$ 6,40 e R$ 6,60. Com 16% da margem de lucro, podem colocar o preço até R$ 7,53. Claro que isso depende da distribuidora e do contrato que se tem com elas. O preço está alto porque a Petrobras aumentou o produto em 73%. O etanol está subindo todo dia. Como um terço da gasolina é composta de etanol, não tem jeito”, disse.

Os consumidores, no fim das contas, são os mais prejudicados, Ademir Araújo, 39, é segurança privado e afirma que tem gastado, em média, R$ 1.200 mensais com combustível, pois roda em torno de 80km por dia. Ele ressaltou que abriu mão de programas de lazer em família para continuar andando de carro, porque não vê vantagem em usar o transporte público por morar no Recanto das Emas.

Sem solução

“A gente não vê uma solução para o problema nem a médio nem a longo prazo. A Câmara Legislativa do DF votou um projeto de lei para 2022 que começa a baixar R$ 0,06 no ICMS do combustível. Isso prova que, se o governo local quiser mexer no imposto, pode, só que está protelando para 2022 com a intenção de fazer campanha e dizer que está baixando o valor do combustível”, disse.

José Carlos Coutinho, 86, arquiteto e professor, reclama que o seu salário continua o mesmo, mas a gasolina já subiu duas ou três vezes no mês. “Isso é uma política irracional e incompreensível de um país que produz gasolina. Se a gente produz qualquer coisa e vende no mercado internacional, tem uma vantagem sobre aqueles que não produzem. Então, os preços deveriam ser compatíveis”, afirmou.

“Há países que estão produzindo a preços menores, por quê? As refinarias deles são melhores, por acaso? Tem gente que atravessa a fronteira para abastecer o carro em um país vizinho, a própria Argentina, por quê? Então, tem alguma coisa errada. Se eles podem vender por um preço menor, e o dólar é o mesmo, então, quero saber onde é que está o erro? Será que é na administração, um general está preparado para administrar a Petrobras?”, questionou Coutinho.

Rafael Buratto, 45, engenheiro agrônomo, viu quase 50% a mais do orçamento ser direcionado para a gasolina em quatro meses. Para ele, os aumentos impedem o consumidor de se planejar. “Tem que ser feita uma espécie de otimização na rotina para se enquadrar nessa nova realidade de preços de combustíveis. Ou seja, cada dia é uma surpresa desagradável”, considerou.

Coutinho também criticou a diferenciação de valores de posto para posto. “Cada um põe um preço diferente, por quê? O dólar é o mesm para todos, então, como é essa diferença de preço entre os postos? Para onde vai essa diferença? Vai para o bolso de quem? Para algum bolso vai”. Ele estava abastecendo no posto da Jarjour, da 205 Norte. “As desculpas esfarrapadas e mentirosas do governo não explicam nada para nós. Há coisas que são tão evidentes, que, está na cara que tem alguém mentindo”, concluiu.