O mercado financeiro já projeta a inflação no teto da meta do governo em 2022. De acordo com a mediana das previsões dos economistas ouvidos semanalmente pelo Banco Central (BC) no relatório Focus, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá subir 5% no próximo ano. A meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é 3,5% ano, com tolerância de 1,5 ponto percentual (p.p) para cima ou para baixo, ou seja, o piso é de 2% e o teto de 5%.
Na semana passada, a projeção do mercado era de 4,6%. Foi a 19ª vez seguida que a previsão aumentou. Para 2021, a projeção aumentou pela 34ª semana seguida e foi a 10,15%, bem acima do objetivo central de 3,75% e do teto de 5,25%. Como a inflação deste ano já está acumulada em 8,25%, e não há mais possibilidade de o indicador convergir para a meta, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, deverá apresentar carta pública ao ministro da Economia, Paulo Guedes, para explicar as razões do descumprimento do objetivo, e o que fará para evitar que o mesmo aconteça no próximo ano.
A alta constante da inflação vem seguida de expectativas de baixo crescimento para o país. Segundo o Focus, o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer 4,78% este ano e apenas 0,58% no próximo. Para o economista Felipe Queiroz, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), as projeções negativas demonstram que o governo perdeu o controle sobre a economia. “O governo vive em uma crise contínua, causada por declarações de seus próprios representantes. Isso faz com que as projeções e as expectativas dos agentes econômicos em relação ao câmbio, principalmente, se deteriorem, gerando uma fuga de capital.”
Na cotação atual, o dólar americano já custa R$ 5,60. Isso faz com que os produtores elevem o preço de suas mercadorias, piorando o cenário de inflação. “Com a taxa de câmbio desvalorizada, o produtor tem um incentivo muito maior a direcionar sua produção ao mercado externo. Logo ele ajusta o preço do sapato, por exemplo, no mercado local, ao preço do mercado externo”, afirma Queiroz.
Para conter a inflação, o BC aumenta a taxa de juros. O economista julga a medida como equivocada. Segundo ele, esse é um instrumento usado para a chamada “inflação de demanda”, que não seria o caso atual: “Temos 14 milhões de desempregados, índice de miséria e fome aumentando. Não temos demanda aquecida, temos demanda reprimida com falta de emprego. Quando o BC adota essa medida, afeta ainda mais a capacidade de recuperação da economia do país”, disse.
Carlos Alberto Ramos, economista da Universidade de Brasília, afirma que o aumento da inflação é um fenômeno mundial: “Mesmo em países europeus, temos a maior taxa de inflação em quase 30 anos. O problema é deixar que a inflação se torne um problema estrutural, de longo prazo”. Segundo Ramos, a situação se agrava no Brasil, devido ao real desvalorizado.
*Estagiários sob supervisão de Odail Figueiredo
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