A economia brasileira, em vez de decolar como tem afirmado o ministro da Economia, Paulo Guedes, está andando de lado, na melhor das hipóteses, de acordo com números do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). O indicador, conhecido como prévia do Produto Interno Bruto (PIB), recuou 0,27%, em setembro, e 0,14% no terceiro trimestre, na comparação com os períodos imediatamente anteriores.
Esses dados negativos, se forem confirmados, marcarão uma recessão técnica — quando há dois trimestres consecutivos de queda da economia —, pois o PIB do segundo trimestre caiu 0,1%, de acordo com o IBGE.
Mas, devido às variações baixas, especialistas dizem que o quadro é mais de estagflação — quando não há crescimento, mas o poder de compra do consumidor é corroído pela inflação alta e pelo desemprego elevado — e não há perspectiva de uma recuperação mais forte.
“No momento, o cenário é de estagflação, porque a economia está, de fato, parada, na margem”, avaliou o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. Com o IBC-Br de setembro, as projeções da consultoria indicam queda de 0,3% no PIB do terceiro trimestre, taxa que, se confirmada, deverá baixar a projeção da MB para o crescimento deste ano de 4,7% para 4,5%. Para 2022, ele manteve, por enquanto, a taxa do PIB zerada.
Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos, também alertou para o cenário de estagflação, porque será preciso uma recessão profunda para a inflação de 2022 voltar para baixo do teto da meta, de 5%. “Não é o que eu defendo, mas só uma recessão vai conseguir reduzir a inflação”, disse. Ele lembrou que, devido à deterioração nas perspectivas econômicas e pelo fato de o governo ter abandonado as regras fiscais com a PEC dos Precatórios, as projeções do mercado para o PIB são corrigidas para baixo, com a mediana do PIB de 2022 passando de 1% para 0,93%. E as estimativas de inflação não param de subir: para este ano, a mediana passou de 9,33% para 9,77%. E, para 2022, foi corrigida de 4,63% para 4,79%.
O ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, não descartou recessão ainda neste ano e alertou para um cenário pior no ano que vem devido aos impactos da alta dos juros na atividade econômica. “O dado negativo do IBC-Br confirma o começo do impacto da mudança na política monetária, iniciada em março, e esses efeitos podem ficar mais fortes daqui para frente. Vamos ter um começo de ano muito difícil em 2022”, destacou.
Diante desse cenário desanimador, o Índice Bovespa abriu a semana com queda de 1,82%, a 104.403 pontos. O dólar voltou a subir e fechou o pregão de ontem cotado a R$ 5,50, com alta de 0,78%. Na contramão, a diretora de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central, Fernanda Guardado, disse que o BC tem “muita dificuldade” de ver esses números mais pessimistas. “Não trabalhamos com cenário de estagflação”, afirmou.
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