A inflação elevada assustou os consumidores e fez o volume de vendas do comércio varejista recuar 1,3% em setembro, na comparação com o mês anterior. Foi o segundo mês consecutivo de queda — em agosto, o setor já havia amargado uma retração de 4,3%. Com isso, o volume comercializado pelo varejo voltou ao nível pré-pandemia, ficando 0,4% abaixo do patamar de fevereiro de 2020. Em relação a setembro do ano passado, a retração foi de 5,5%. Os dados fazem parte da Pesquisa Mensal do Comércio, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Depois da grande queda de abril do ano passado, início da pandemia, veio uma recuperação muito rápida que levou ao patamar recorde de outubro e novembro de 2020. Em seguida, tivemos um primeiro rebatimento com uma nova queda forte em dezembro e dois meses variando muito próximo do mesmo nível pré-pandemia, até março, mês a partir do qual houve nova trajetória de recuperação. Desde fevereiro de 2020, o setor vive muita volatilidade”, analisou Cristiano Santos, gerente da pesquisa. Mesmo assim, o varejo acumula crescimento de 3,8% no ano e, de 3,9% nos últimos 12 meses.
O economista José Luiz Pagnussat, do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon/DF), observou que a inflação alta reduziu o poder aquisitivo das famílias. “Os gastos maiores de alguns itens que pesam no orçamento familiar impõe às famílias a necessidade de apertar o cinto e comprar menos outros produtos”, disse.
Pagnussat acredita, também, que a expectativa de promoções (Black Friday) nos meses seguintes possa ter contribuído para segurar as vendas. “O cenário para os próximos meses é de recuperação, com as promoções e festas de final de ano, mas com alguma cautela, dado o aumento dos preços de forma generalizada”, comentou.
A administradora Sabrina Freire, 27 anos, mesmo se declarando muito consumista, diminuiu as compras. “Gosto muito de roupas, sapatos, cosméticos e maquiagens. Porém, devido ao aumento de todos os produtos, tive que frear as compras e, agora, estou consumindo bem menos”, afirmou. Ela comentou, porém, que, nas festas de fim de ano, pretende comprar roupas para a família e gastar mais com comida.
Professor de economia da PUC-SP, Antônio Carlos Alves observou que a queda de consumo nos supermercados foi a mais significativa em setmebro. De acordo com o IBGE, as vendas do setor de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, que tem grande peso no indicador geral, recuaram 1,5% no mês. “O consumidor, quando chega ao supermercado, toma um susto com o preço dos produtos que está habituado a comprar. O comportamento racional é diminuir as compras, até que se perceba uma estabilidade nos preços novamente”, disse.
Entre as oito atividades pesquisadas pelo IBGE, seis tiveram taxas negativas em setembro. As quedas mais intensas ocorreram em equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-3,6%), móveis e eletrodomésticos (3,5%) e combustíveis e lubrificantes (2,6%).
O advogado Lázaro Assunção, 54 anos, contou que o aumento no preço dos produtos no mercado fez ele mudar os hábitos de consumo, procurando alternativas mais baratas. “Com o preço da carne de boi do jeito que está, a gente tem que recorrer a outras opções. Estou comprando mais ovo, carne de porco, frango e salsicha.”
Além disso, Assunção diz que tem evitado gastos fora de casa, em função do alto preço de programações de lazer. “Tenho levado cada vez menos minha família pra jantar em restaurante, ir ao cinema, esse tipo de saída. É complicado, porque não é só o preço desses serviços que aumentou, tem também a gasolina chegando aos R$ 8,00. Só pegar o carro pra sair já está custando uma fortuna.”
O levantamento aponta, também, que, no comércio varejista ampliado, que inclui veículos e materiais de construção, o volume de vendas caiu 1,1% em setembro, ante agosto. “O impacto negativo veio da queda de 1,7% de veículos, motos, partes e peças, e de 1,1% em material de construção, ambos, respectivamente, após variação de 0,3% e queda de 1,2% registrados em agosto”, informou o IBGE.
* Estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo
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