Em reuniões com diretores do Banco Central nos últimos dias, analistas de instituições financeiras traçaram um quadro pessimista para a economia. A avaliação é de que as regras fiscais não serão mais respeitadas pelo governo, e essa mudança no humor vem se refletindo nas projeções de crescimento do país, que não param de serem revisadas para baixo, com queda do Produto Interno Bruto (PIB) no ano que vem e, em alguns casos, até em 2023.
Além disso, as previsões para a inflação acima do teto da meta de 2022, de 5%, aumentam, e analistas não descartam que o dólar chegue a R$ 6.
Economistas que participaram dos encontros avaliaram que o quadro fiscal tende a se deteriorar independentemente da aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, que parcela dívidas judiciais e altera a regra do teto de gastos, abrindo espaço para mais despesas em ano eleitoral.
Para os operadores do mercado financeiro, a aprovação da PEC é "menos ruim" do que a rejeição, apesar de o teto de gastos não ser efetivamente respeitado, em ambos os casos. Analistas mais atentos aos impactos de longo prazo reconhecem que haverá perda na confiança de investidores no país por conta das "pedaladas" com a PEC, que são muito maiores do que as que provocaram o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
"O mercado acreditava que o ministro Paulo Guedes (Economia) evitaria uma piora nas regras fiscais, mas, agora, percebeu que ele aceita tudo para evitar a perda de poder", lamentou um economista de uma gestora estrangeira.
Entre os analistas, há um consenso de que a regra do teto poderia ser aperfeiçoada ou mudada, mas não em véspera de ano eleitoral, porque isso mina qualquer promessa de responsabilidade fiscal.
"O cenário é muito ruim, e temos que pensar em contenção de danos. A inflação sobe e o BC vai elevar ainda mais os juros para desancorar as expectativas não apenas para 2022, mas também olhando para o horizonte de 2023 e 2024", destacou uma analista.
Eleição
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, vinha alertando para esse cenário de deterioração das regras fiscais e o câmbio mais elevado há algum tempo. "É possível chegarmos com o dólar a R$ 6 com a piora fiscal contratada do Centrão, em conjunção com uma eleição mais do que tumultuada", disse Vale.
Ele reduziu a previsão para de crescimento do PIB em 2022 de 0,4% para zero, mas não descarta piora na projeção. "Podemos ir de fato para uma recessão com juros mais altos do que estamos agora", alertou.
Um economista de uma corretora financeira também acha que o dólar a R$ 6 "não parece fora de propósito". "Na reunião de que eu participei, ninguém fez essa projeção, mas a incerteza ainda é muito grande", destacou.
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